No dia 01 de Agosto ficámos a conhecer a estimativa preliminar do Instituto Nacional de Estatística (INE) para a Conta Satélite do Turismo. Os números divulgados revelam que, em 2023, a actividade turística contribuiu direta e indiretamente com cerca de 33,8 mil milhões de euros para o Produto Interno Bruto Português (PIB). Contas feitas, o turismo passou a responder por cerca de 12,7% da nossa capacidade de gerar riqueza, dando um contributo de 1,1 pontos percentuais para o crescimento real do PIB em 2023, estimado em 2,3%.

A especialização do País em torno do fenómeno turístico começou, pelo menos, em 2016. De acordo com o INE, nesse ano, o peso das actividades turísticas no PIB ascendia a 9,7%. Entre 2017 e 2019, os valores equivalentes são 10,9%, 11,5% e 11,8%, respectivamente. Esta trajectória foi interrompida pela pandemia Covid-19. Com a estabilização da situação sanitária os fluxos turísticos normalizaram e, sem surpresa, o peso do turismo no PIB nacional voltou a aumentar, ultrapassando-se assim os níveis pré-pandemia logo em 2022.

Há dois outros aspectos que merecem destaque quando o tema é a importância do turismo para a economia nacional.

O primeiro diz respeito ao nível de emprego, com o portal travel BI a detalhar que, no primeiro trimestre de 2024, as actividades turísticas geraram oportunidades para 312.1 mil indivíduos, i.e., 6,2% do total nacional. O segundo prende-se com o equilíbrio das nossas contas externas. Neste ponto, o INE revela que, entre 2016 e 2019, a taxa de variação média de crescimento das exportações turísticas foi 12,2%, subindo para 17,3% em termos médios, entre 2022-2023. Assim, sem surpresa, o portal travel BI sublinha que, em 2023, o turismo foi já responsável por 19,9% das nossas exportações totais.

Os números anteriores sugerem que o País está numa trajectória virtuosa no que ao turismo diz respeito. Infelizmente, este caminho está repleto de desafios relevantes. Do ponto de vista económico, importa reconhecer que o turismo não contribui para melhorar a nossa posição relativa na escala internacional da produtividade, desafio que urge vencer. Por outro lado, as actividades turísticas não remuneram de forma particularmente generosa o factor produtivo trabalho, algo que gera problemas significativos à gestão do capital humano.

Ao mesmo tempo, o turismo traz consigo questões complexas ao nível das infraestruturas (i.e., a sua construção, dimensionamento e manutenção) e da sobre-exploração dos recursos naturais, sendo, cada vez mais, uma fonte de fortes tensões sociais. São muitos os casos onde os locais acusam os turistas de serem os principais responsáveis pela destruição da sua qualidade de vida, fenómeno que resulta do aumento dos preços (em particular da habitação), da insegurança crescente e da destruição do património cultural secular. Fica, então, a questão: estará a sociedade portuguesa a ponderar correctamente os benefícios e os custos da nossa especialização crescente em torno do fenómeno turístico?

NOTA: Este artigo apenas expressa a opinião do seu autor, não representando a posição das entidades com as quais colabora.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.