As tensões provocadas por todo o ruído em torno de uma escalada da guerra comercial entre EUA e China representaram um rastilho que trouxe um aumento da volatilidade durante praticamente todo o ano, alimentando a incerteza para os investidores e moldando correções e recuperações dos mercados de risco durante este ano.

O final de 2019 não será diferente e, chegados a este ponto, a única certeza que existe é que tão cedo não teremos uma clarificação e que isto se arrastará para o próximo ano, sobretudo ao sabor das intervenções públicas e dos tweets do presidente Trump. Curiosamente, um ano que ficará marcado por eleições presidenciais nos EUA, às quais a China estará particularmente atenta.

Contudo, o desenlace deste impasse – depois de em novembro ter sido sinalizado um caminho muito construtivo para um princípio de acordo – teve percalços já no princípio deste mês, novamente após afirmações do presidente norte-americano dando conta que qualquer resolução sobre este tema poderia não ser tomada antes das eleições presidenciais.

Acresce o facto de os EUA terem promulgado uma lei de apoio aos direitos humanos e à democracia em Hong Kong no final do mês de passado, o que será obviamente mais um obstáculo relevante para que as partes cheguem a uma forma de entendimento sobre o tema.

Em suma, estamos perante um resultado binário da guerra comercial. Por um lado, a persistência de um impasse sobre questões comerciais em 2020 pode começar a influenciar o comportamento da economia mundial e dos mercados financeiros. Por outro, se as tensões diminuírem e um acordo for alcançado entre a China e os EUA, isso poderá significar uma melhoria considerável no clima de confiança global dos agentes económicos.

Mais. Poderá abrir um caminho de crescimento sólido e sustentar os ganhos das empresas. Se tal não acontecer, e eventuais obstáculos comerciais se expandirem para a Europa, as consequências para a economia real poderão ganhar mais tração e as probabilidades de uma recessão tenderão a aumentar, enquanto a confiança económica sairá prejudicada, afetando as decisões de investimento.

Ainda assim, a recessão não faz parte do que pode ser considerado um cenário central dos analistas e observatórios económicos. Isto deve-se essencialmente aos bancos centrais. No meio da incerteza geopolítica, a economia mundial ainda crescerá num ambiente de taxas de juro muito baixas e, assim, fornecerá apoio para as empresas executarem e crescerem, por meio de M&A ou organicamente, apoiadas num consumidor privado ainda resiliente.

No entanto, os eventos de 2019 trouxeram evidências de que a geopolítica ainda tem um longo caminho a percorrer, e isso provavelmente afetará a evolução das avaliações das classes de ativos, pois começarão a incorporar que o mundo agora é um lugar de maior risco para os investidores tomarem as suas decisões de investimento.