A Uber Technologies Inc. está a poucos dias de fazer a IPO do ano. Não só porque é actualmente uma das empresas tecnológicas mais conhecidas a nível global, mas também pelos níveis de avaliação a que se espera que entre em bolsa. Segundo as estimativas mais recentes, a Uber Technologies Inc. deverá começar a negociar nos mercados público com uma capitalização bolsista perto dos 90 mil milhões de dólares (cerca de 80 mil milhões de euros). Uma avaliação que possivelmente a colocaria perto de estar entre as 100 empresas mais valiosas do mundo.

Apesar de esta avaliação representar procura real, de investidores que estão dispostos a comprar as ações a estes preços, parece haver uma escandalização generalizada da opinião pública relativamente ao nível da avaliação.

Uma primeira vista pelos resultados da Uber é realmente assustadora. A empresa tem crescido a um ritmo extraordinário ao longo dos últimos anos (como seria de esperar pelo número de ubers que vemos na estrada), mas o desempenho operacional é terrível em termos financeiros. Ainda que seja perfeitamente normal que uma empresa como a Uber – que cresceu quase 30 vezes em receitas desde 2014 – invista mais do que aquilo que gera em termos de fluxos de caixa, em termos operacionais já seria de esperar que houvesse alguma rentabilidade, ou visibilidade disso. Que não é o caso.

Em 2018, a Uber Technologies Inc. teve receitas de 11,3 mil milhões de dólares (cerca de 10,1 mil milhões de euros), mas perdeu mais de 1,5 mil milhões de dólares (cerca de 1,3 mil milhões de euros) na sua actividade operacional. Para além do que perdeu no decorrer das suas operações, a empresa ainda investiu quase 600 milhões de dólares (cerca de 537 milhões de euros). Ou seja, apesar do crescimento extraordinário, em 2018, a Uber Technologies Inc. jorrou o equivalente a quase 20% das suas receitas desse ano. Impressionante pela negativa.

Para além do mau desempenho operacional, outro factor que também assusta é o número de concorrentes que já se encontram estabelecidos. Ainda há pouco mais de um mês entrou em bolsa a Lyft, a principal concorrente nos mercados desenvolvidos. E nos mercados emergentes existem já outros players que dominam o mercado como a DiDi na China ou a OLA na Índia. Concorrência também não é do agrado dos investidores.

Mas tudo indica que é nestes e noutros factores negativos que a opinião pública parece estar focada. E quando o sentimento geral é negativo, a probabilidade de estarmos perante uma boa oportunidade de investimento é mais alta. Ao procurar evidências que apontem nesse sentido, por entre as centenas de páginas do prospecto da Uber Technologies Inc., há um número que salta logo à vista, positivamente.

Ao longo da sua curta vida, a empresa já pagou quase 80 mil milhões de dólares (cerca de 71,5 mil milhões de euros) a condutores. Só no último trimestre de 2018, a Uber Technologies Inc. pagou 9,2 mil milhões de dólares (cerca de 8,2 mil milhões de euros) a condutores, cerca de 80% da receita bruta que gerou com as viagens.

Ora, se (e este é um grande “se”) num futuro próximo existirem carros autónomos na estrada de forma massificada, é provável que uma fatia relevante do que a empresa paga a condutores se transforme em receita para esta. Nesse caso, investir na Uber Technologies Inc. já merece consideração…

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.