Uber é uma palavra de origem alemã que significa super, muito melhor. É utilizada para salientar que algo é excecional: uber música, uber jogo, uber festa…
‘Uberização’ é um termo cunhado para expressar um novo formato de fazer negócios, apoiado nas tecnologias móveis, que ligam o consumidor ao fornecedor de produtos e serviços da forma mais direta possível, agregando-lhe uma personalização, coisa impossível de se fazer antes, ao oferecer serviços de forma independente através de uma plataforma digital, que está na base do seu funcionamento. Nesta plataforma, é possível comprar e adjudicar quase todo o tipo de serviços acessíveis por qualquer smartphone ou em página web, pelo que, atualmente, o modelo ‘Uber’ exerce em todos os modelos de negócio tradicionais uma ameaça latente que é a sua inovação pioneira, disruptiva por via das tecnologias.
A ‘Uberização’, resultado direto do ‘fenómeno’ digital, não é exclusivo de alguns setores mais digitalizáveis, como os media ou software, mas tem o potencial de afetar praticamente todos os setores económicos. A pressão do mercado consumidor por uma solução ou serviço mais rápido, barato, flexível, sem intermediários, simplesmente digital leva inevitavelmente à rutura dos modelos de negócio tradicionais solidificados por décadas. O que está em causa é digitalizar tudo e ligar tudo à Internet, devendo as instituições escolher entre a digitalização e a morte.
Há já inúmeros serviços que funcionam segundo o modelo ‘Uber’, de economia partilhada: desde as viagens à saúde, do alojamento local à restauração. Os exemplos abundam de alternativas mais vantajosas a serviços já consolidados como os táxis, no caso da Uber, e hospedagem local como a Airbnb, ambas cada vez mais populares.
Nos EUA surgiu a Pager, que permite ter um médico a qualquer hora. São médicos que continuam a trabalhar em hospitais ou em consultórios, mas que através da Pager, nas horas vagas, atendem pacientes, sendo tudo marcado online e o pagamento feito também digitalmente. Ainda na saúde, nos EUA, em vez de irem para a fila do centro de saúde marcar a consulta e de se sentarem na sala à espera da sua vez, os pacientes podem usar um website ou uma app para pedir uma consulta online a uma equipa de médicos inscritos na plataforma American Well, uma das dezenas de empresas de telemedicina que têm vindo a proliferar em todo o mundo.
Até o setor da justiça vê chegar o seu momento Uber. A Axiom, com sede em S. Francisco, junta uma rede de 1 500 advogados de várias áreas de especialidade que trabalham a partir de casa ou dos seus escritórios pessoais, oferecendo os seus serviços jurídicos através desta plataforma, tornando os custos mais suportáveis para o cliente.
A ‘Uberização’ é já uma realidade irreversível para a economia. Da mesma forma que o correio eletrónico reduziu a atividade postal, as máquinas multibanco e o homebanking satisfazem a maior parte das necessidades bancárias do cidadão comum, a Uber proporciona um serviço mais personalizado e mais adaptado às necessidades dos consumidores, e na maioria das vezes também vantajoso em termos de preço. O emprego corporativo de longo prazo está a ser substituído pelo paradigma do work on demand.
O investigador da Universidade de Cambridge no Reino Unido, Andy Neely, disse recentemente à BBC que “a economia e o consumo estão cada vez mais voltados para os clientes modelo ‘Uber’ (…). E não é só a oferta de um serviço que está em causa. O elemento-chave é a satisfação do cliente”.
“O séc. XVIII abraçou a ideia do progresso; o séc. XIX, da evolução; o séc. XX, do crescimento e da inovação. A nossa era atual do século XXI, é da disrupção. Os efeitos colaterais dos novos modelos de negócios muitas vezes provocam a falência de empresas tradicionais e a precarização do mercado de trabalho.” (Jill Lepore, Universidade de Harvard). Impedir isto contraria a racionalidade económica e o desenvolvimento das sociedades.