1. O conflito bélico no Leste europeu, com a invasão russa do território ucraniano, tem vindo a mobilizar o mundo ocidental, com destaque para os EUA e a União Europeia.
O impacto do conflito está a sentir-se ao nível dos preços de todos os produtos essenciais e não essenciais, mas também na regularidade das cadeias de fornecimento. Ora, estamos a sair de uma pandemia que durou dois anos, com um claro desastre social e de saúde, e os países preparavam-se para reconverter a indústria e relançar a atividade económica ao mesmo tempo que tentavam controlar o nível de inflação e a subida dos juros.
A aposta da União Europeia (UE) passa pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), um nível de ajudas europeias a todos os países, com o objetivo de recuperarem a atividade para o nível pré-pandemia. Dito isto, convém perceber até que ponto existirá uma correlação entre as ajudas anunciadas à manutenção da soberania ucraniana e futuramente à reconstrução do país (se conseguir manter essa mesma soberania).
O que temos assistido é a ações que têm vindo a ser tomadas pela presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen em cooperação estreita com a NATO, EUA e Reino Unido – agora fora da UE mas bastante ativo internacionalmente, como se viu esta semana pelo périplo de Boris Johnson pelos países do Báltico e não só – de mobilização de importantes somas como foi inicialmente o pacote de 500 milhões de euros, sendo que 450 milhões se destinam a armas letais e, mais recentemente, o pacote de 1,2 mil milhões de euros de assistência macrofinanceira de emergência.
Do lado da Rússia, a vida não está facilitada com as sanções económicas impostas ao país, com efeito nos bancos russos (o braço financeiro do maior banco russo, o Sberbank, a operar na Europa e com sede na Áustria, está em situação de falência) ou o corte no acesso ao sistema de transferências internacional SWIFT.
A resposta será o corte de gás à Europa, o que trará problemas acrescidos à Rússia devido ao corte de acesso a divisas e que terá consequências graves internas, tanto a nível social como político.
A Europa, por seu lado, no esforço de reconstrução da Ucrânia terá de mobilizar grandes recursos financeiros, logísticos e de pessoal técnico, pois o país está de pantanas.
No cenário de pedido de adesão acelerado à UE, que tem opositores no seio dos 27 e que poderá ser assinado por um governo que não seja um fantoche da Rússia, coloca-se a questão de perceber até que ponto é que estas iniciativas poderão afetar o desenho do PRR para toda a Europa. Recorde-se que o plano foi montado para um cenário pós-pandemia e de apoio direto aos Estados-membros, sendo que parte desses recursos financeiros poderão ser desviados para o auxílio à Ucrânia.
Importa não esquecer que estas ajudas não serão apenas para o Estado mas também para os milhões de ucranianos (a ONU estima um número de refugiados da ordem dos quatro milhões) que estão a fugir da guerra e se encontram espalhados por vários países europeus, sobretudo por aqueles com quem a Ucrânia faz fronteira.
2. Definitivamente, a inflação instalou-se entre nós. A subida dos combustíveis é extraordinária, e por acréscimo em toda a infraestrutura de logística e commodities. A disrupção no Leste europeu apenas veio agravar uma tendência criada pela pandemia. O controlo dos preços via subida de juros é inevitável.