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Ucrânia: Zelensky quer ultrapassar estagnação dos últimos meses

O conselheiro presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak justificou a substituição do popular ex-comandante das Forças Armadas Valery Zaluzhny com a necessidade de ultrapassar a estagnação na frente de combate.
18 Fevereiro 2024, 09h54

O conselheiro presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak justificou a substituição do popular ex-comandante das Forças Armadas Valery Zaluzhny com a necessidade de ultrapassar a estagnação na frente de combate nos últimos meses e encontrar respostas claras para retomar a iniciativa.

Em entrevista à agência Lusa, o conselheiro e assessor do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, abordou, a par da ampla remodelação nos comandos militares do país, as dificuldades em termos de equipamentos militares, sugerindo que só meios de alta tecnologia conseguirão ultrapassar a superioridade numérica da Federação Russa, contando para isso com o apoio de Portugal.

Mykhailo Podolyak lembrou que a substituição de Zaluzhny pelo ex-comandante do Exército Oleksandr Syrsky, anunciada em 08 de fevereiro, é uma prerrogativa constitucional do Presidente ucraniano e que Zelensky “pretende alcançar certos resultados, que, infelizmente, não foram obtidos em dois anos”, desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.

O assessor do presidente ucraniano referiu que a remodelação assumiu uma proporção vertical ao nível dos comandos de estado-maior e chefes das direções operacionais e táticas, “e todos eles são generais combatentes, ou seja, pessoas que estão no campo de batalha há dois anos, que entendem como a Rússia luta e que precisam ser feitas mudanças para não se cair na estagnação, como, infelizmente, aconteceu a partir do outono de 2023, na parte da guerra terrestre”.

Segundo o conselheiro de Zelensky, “o Presidente quer respostas claras para perguntas claras” e um estudo para determinar as capacidades das Forças Armadas ucranianas para fazer face à agressão russa, quando “é evidente que não irá parar a menos que perca”, e, nesse sentido, o objetivo de libertação de todos os territórios ocupados permanece inalterado.

“Ele [Zelensky] também quer ver ideias novas de gestão que nos deixem claro que a Federação Russa não terá a iniciativa plena, que a iniciativa ainda caberá à Ucrânia na zona de combate terrestre”, adiantou.

Para o conseguir, é preciso entender “quais as ações táticas a tomar num plano detalhado passo a passo, para que não aconteça que a Rússia exerça pressão em algum lugar”, referiu Podolyak, o que implica assumir a defesa tática e operacional nalguns pontos da frente, mas também “aumentar a intensidade de ações ofensivas noutras direções”, como, por exemplo, através de ataques a infraestruturas logística russas e evitar que sejam capazes de repor reservas e recursos rapidamente.

Quando sondagens indicam que Valery Zahuzhny conserva uma popularidade bastante acima do próprio Presidente ucraniano, o assessor da Presidência comenta que o ex-comandante das Forças Armas angariou uma “certa reputação” ao fim de quase dois anos de conflito, embora ressalvando que é difícil fazer esse tipo avaliações em tempo de uma guerra que ainda não foi vencida e que “não faz sentido falar sobre quem, o quê e como de uma forma tão incondicionalmente emocional”.

“Ao mesmo tempo, a sociedade entende que o comandante-em-chefe supremo [Zelensky] pode tomar a decisão apropriada, e que ele não substituiu apenas alguém por outro, mas renovou toda a verticalidade da gestão militar com generais experientes”, observou.

Na entrevista à Lusa, Mykhailo Podolyak referiu-se às necessidades da Ucrânia, frisando que “é impossível lutar em grande número contra os russos” e que “nenhum país europeu, onde o valor da vida humana está em primeiro lugar, lutará contra um país onde o valor da vida humana não existe de todo”.

É por isso que, em vez de se lutar contra “as vantagens quantitativas da tradição russa”, o conselheiro aponta as soluções de alta tecnologia, através do fornecimento de mais mísseis e de um número muito maior de ‘drones’ às Forças Armadas ucranianas, além da componente da aviação, quando é esperada a introdução em 2024 dos caças norte-americanos F-16 no teatro de operações, e ainda a paridade de artilharia em relação ao Exército russo, “que ainda mantém uma grande vantagem”.

O conselheiro presidencial explicou que a Rússia mudou as suas táticas e atualmente utiliza um grande número de bombas aéreas guiadas para cobrir quase toda a linha de frente, como em Avdiivka, na província de Donetsk (leste), de onde as forças ucranianas se retiraram nos últimos dias, procurando, segundo Podolyak, “apenas a evitar que os homens fossem cercados” e que o recuo foi curto: “Literalmente cem metros ou duzentos metros de distância. Por outras palavras, tudo continua igual”.

No entanto, adverte que, para que a Rússia perca a sua suprema superioridade aérea, “são precisos definitivamente componentes de aviação e sistemas de defesa aérea” e os aliados da Ucrânia já têm claro que a guerra “não pode terminar com algum tipo de compromisso – que significaria a continuação da guerra noutros formatos” – e que para isso têm de dotar as autoridades de Kiev de meios.

“Os europeus compreendem isto, e penso que estão a investir muito mais em ‘joint ventures’ com a Ucrânia no setor militar, incluindo o fabrico de munições e novas instalações de produção”, realçou, assinalando igualmente a participação de Portugal – que anunciou recentemente a contribuição de um milhão de euros para a transferência de munições -, na coligação internacional de F-16, embora apenas na componente de formação.

Em entrevista à Lusa em 08 de fevereiro, o chefe de gabinete adjunto da Presidência ucraniana, Ihor Zhovkva, pediu que Portugal também forneça os caças norte-americanos, à semelhança do que já prometeram Países Baixos, Dinamarca, Bélgica e Noruega, e que, após as eleições legislativas, aumente o seu apoio militar, que é ainda “bastante modesto”.

Mykhailo Podolyak não avançou se já existe uma resposta das autoridades portuguesas, mas colocou Portugal no grupo de países onde “hoje haverá muito menos burocracia e muito menos dúvidas” sobre o apoio à Ucrânia e que “estão a monitorizar ativamente a situação e a pensar como aumentar a ajuda”, através da comunicação entre os respetivos ministérios nas suas áreas de cooperação.

“Muitos países que estão longe do epicentro da guerra compreensivelmente poderão reagir mais lentamente, mas não é o caso hoje, na minha opinião, dos países do sul da Europa”, comentou, e isso é resultado de uma mudança de atitude da Federação Russa, “fazendo declarações públicas muito mais descaradas e que atacará a Europa de qualquer maneira e já o está a fazer”.

Nesta fase, os 27 “já chegaram à conclusão de que é necessário aumentar significativamente a assistência instrumental sob a forma de ajuda não financeira” e investir em mais coligações e produções de equipamentos militares conjuntas e, “claro, Portugal também tem estado ativamente envolvido nestes processos”.

Podolyak mencionou que a guerra na Ucrânia também trouxe esta evolução no continente europeu, que, antes da invasão russa, contava com os Estados Unidos para garantir, no âmbito da NATO, a sua segurança.

“Hoje, existem muito menos meios importantes nas reservas da Europa para participar ativamente em operações de combate, mas estas questões já estão a ser repensadas atualmente”, apontou.

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