A passagem de ano consiste numa excelente oportunidade para refletir sobre os grandes temas e momentos do ano anterior. Assim, partilho a minha reflexão sobre os acontecimentos e tendências que marcaram 2024.
Existe uma maldição, alegadamente de origem chinesa, que afirma que vivas em tempos “interessantes”. A perspetiva é de que tempos interessantes são tempos conturbados e marcados por turbulência. Julgo que 2024 pode ser classificado como “interessante”. De acordo com várias fontes, alguns dos temas que mais marcaram 2024 foram dívida, populismo, conflito, clima, tecnologia e cultura pop.
O mundo atingiu um recorde histórico de 97 triliões de dólares no que diz respeito à dívida pública e, apesar dos países em desenvolvimento representarem apenas 1/3 desse valor, a dívida desses países mais do que duplicou desde 2010 e o custo desse financiamento é muito mais elevado (chegando a ser 10x) do que para os países desenvolvidos.
Os efeitos das narrativas populistas têm crescido um pouco por todo o mundo, aumentando o conflito interno nas sociedades, que tendem a exacerbar desigualdades. A crescente instabilidade geopolítica foi, infelizmente, um dos principais temas de 2024. Acumulado à guerra Rússia-Ucrânia, observamos o aumento de conflitos no Médio Oriente, mas fontes especializadas afirmam que 42 países estiveram em guerra ou em algum tipo de conflito ou insurgência em 2024 e que, até outubro deste ano, morreram sensivelmente 150.000 pessoas devido a estes conflitos.
A sensação de instabilidade a nível mundial também tem aumentado com a ameaça de uma nova guerra fria e o espetro de uma guerra nuclear. E, mesmo no final do ano, perdemos um dos grandes estadistas humanitários, Jimmy Carter, que teve um papel fundamental na negociação de vários conflitos e, em particular, no Médio Oriente.
Em 2024, a crise climática causou mais seis semanas de dias perigosamente quentes para uma pessoa comum. Cerca de metade dos países no mundo sofreu pelo menos dois meses com temperaturas de alto risco.
A tecnologia tem sido um tema recorrente nas últimas décadas, mas 2024 foi claramente marcado pela adoção mais massificada de inteligência artificial generativa, cuja utilização atingiu 75%, dos quais 46% nos últimos seis meses do ano. A IA Generativa tem o potencial de impactar todos os setores de atividade, mas também carrega consigo o risco de deepfake e o uso para a desinformação e aumento de conflito.
Para terminar, a sociedade também é refletida na sua cultura. A cultura Brat da Charli XCX, a crise de saúde na família real britânica, a tournée Eras de Taylor Swift – que arrecadou mais de dois biliões de dólares em 149 espetáculos e que deu origem ao conceito Swiftonomics – e ainda os Jogos Olímpicos em Paris. Foi um ano de produção e de regozijo do que o ser humano melhor sabe fazer.
Assim, termino dizendo que a palavra de 2024 tem de ser esperança! Esperança de que conseguiremos ultrapassar os tempos “interessantes” em prol do interesse e bem-estar de todos. Espero que tenhamos aprendido as lições. Feliz 2025!