A Grã-Bretanha excluiu Portugal do “Corredor Turístico”, ou seja, da lista de 59 destinos seguros, obrigando no regresso a uma quarentena de 14 dias. A primeira pergunta que deve ser feita é simples e é esta: como se deixou chegar Portugal a esta situação para que isto acontecesse?

Porque é exatamente para que isto não aconteça – nem nunca tivesse acontecido, que existe governo e no governo existe Ministro dos Negócios Estrangeiros. O assunto Reino Unido estava em cima da mesa há muito tempo e a decisão chegou mesmo a ser adiada. Onde falharam as diligências que foram feitas pelo Governo para defender os nossos interesses?

Convém deixar claro que é uma medida desproporcionada e injusta da Grã-Bretanha. Mas afeta os Portugueses, aproximadamente 400.000, que vivem e trabalham no Reino Unido. Afeta os Ingleses que vivem, trabalham e investem em Portugal. E que sabem que Portugal os acolhe bem, são aqui bem-vindos sem restrições e que, apesar das circunstâncias, continuamos a ser um país seguro. Tem um enorme impacto na nossa economia, pois os britânicos foram em 2019 cerca de 2,1 milhões de turistas. Esta circunstância não é desvalorizável, pois pode ter um efeito económico e social devastador sobretudo no Algarve. E, last but not least, afeta a imagem de Portugal no mundo.

Perante o número cada vez maior de países que nos barram a entrada, com maiores ou menores limitações, há perguntas que devem ser repetidamente feitas e que exigem explicações transparentes: como se deixou chegar Portugal a esta situação? Como se pensa sair daqui? Como se quer e quando se vai resolver o problema?

O Governo diz-se desapontado com o governo Britânico. Nós também! Mas também não se escondemos o desapontamento e desagrado para com o Governo português – isto não podia acontecer! Se o Governo Português não fez tudo, se não fez o trabalho de casa, se não se explica com mediana clareza, é tempo de dizer que o Governo já falhou. Clamorosamente e em toda a linha. E não pode voltar a falhar – pelos interesses de Portugal e dos Portugueses.

Ao longo do último ano o Governo falhou no acompanhamento do Brexit, no domínio dos apoios consulares, na política de apoio social e ao associativismo nas comunidades, na captação de investimento e falhou na abertura de fronteiras – só para resumo de conversa.

No decurso do último ano o governo não teve a arte de executar um programa de diplomacia económica e cultural ambicioso, faltou-lhe a humilde ousadia de relançar o Instituto das Comunidades Portuguesas e não teve o engenho de perceber a necessidade de dar a prioridade devida à relação com os países de língua oficial portuguesa, desde o Brasil até ao território de Macau. Assim sendo, o Governo que temos não só acumulou erros evitáveis, como foi um falhanço em questões importantes e decisivas no domínio da política externa. Mas disfarça bem e é especialista em propaganda para inglês ver.