Muito perto do fim do prazo, os EUA e a UE chegaram a acordo sobre as condições na nova relação comercial entre si, que envolve 15% de tarifas norte-americanas e nenhumas novas tarifas europeias. Para além disso, também houve a promessa comunitária de comprar 750 mil milhões de dólares de produtos energéticos norte-americanos nos próximos três anos e investir 600 mil milhões de dólares nos EUA.
Vários já vieram criticar a assimetria do acordo, afirmando convictamente que foi mal negociado, que se poderiam ter obtido condições muito melhores. Antes de mais, convém recordar dois aspectos: por um lado, havia uma assimetria de poder e, por outro, Trump é muito irracional e imprevisível.
Em relação à assimetria, embora economicamente as economias da UE tenham dimensão semelhante, a Europa depende dos EUA em duas dimensões críticas: a segurança no âmbito da NATO e o armamento e financiamento da Ucrânia. Muitos olharam para as negociações como se resumissem à dimensão comercial, quando havia outras duas muito mais importantes, que era imprescindível não contaminar.
A Comissão Europeia tinha preparado dois pacotes de retaliação, que felizmente nunca chegaram a ser formalmente colocados em prática, o que seria sempre uma grande imprudência. Para quem preferia uma abordagem mais musculada, veja-se o caso do Canadá, que está mais dependente comercialmente dos EUA, mas que não precisa de se preocupar com possíveis ramificações na NATO e na Ucrânia, que adoptou uma atitude mais dura, e que não está a beneficiar com isso (tarifas de 35%, excepto os bens que respeitam o acordo de 2020).
Diz-se que os EUA exportam muitos serviços para a UE e que deveríamos ter usado isso como alavanca. Como? Na maior parte dos casos, não há substituto europeu para os serviços digitais mais sofisticados norte-americanos de que dependem as empresas europeias, pelo que qualquer ameaça seria sempre oca. Ao contrário da China, que sabe a importância dos metais raros que produz, cuja exportação restringiu, quando do outro lado se viu a amadorismo da abordagem norte-americana, que iniciou uma guerra comercial sem ter o cuidado de criar reservas estratégicas primeiro.
Em relação ao facto de Trump ser simultaneamente irracional e imprevisível, estas duas características estão correlacionadas. É por as suas posições serem irracionais, que elas mudam com tanta facilidade, porque não há uma lógica que as balize ou oriente. Isto dificulta sobremaneira as negociações, porque apresentar argumentos racionais é inútil.
Em relação às promessas de compras e de investimento, é preciso dizer duas coisas: a UE não tem instrumentos de as cumprir, porque quem faz compras e investe são as empresas, não os Estados; Trump só se preocupa com o curtíssimo prazo, com a imagem de “vitória” no final das negociações, não irá verificar o cumprimento futuro dos acordos.
Em resumo: era preferível que Trump não tiesse iniciado este conflito comercial com o resto do mundo, mas os termos alcançados pela UE parecem razoáveis dentro das limitações europeias.