Se Alexandra Reis recebesse uma indemnização da TAP no tempo em que a empresa era privada, nada tínhamos a ver com a estupidez de indemnização que os respectivos accionistas pagassem. O problema é que a companhia foi nacionalizada no tempo da geringonça e transformou-se num capricho do ministro Pedro Nuno Santos.
Este caso, mais do que imoral, pornográfico passou-se nas barbas do ministro das Infra-Estruturas, a quem fica muito difícil explicar como é que uma administradora que recebe 500 mil euros de indemnização depois de dois anos de trabalho na TAP (a empresa que é a menina dos olhos do ministro) passa para outra empresa pública tutelada por ele, a NAV, sem que Pedro Nuno Santos soubesse desse chorudo cheque recebido por Alexandra Reis, que segue para secretária de Estado do Tesouro.
E é pornográfico porque lesa o erário público e falta ao respeito a uma comunidade que vive um momento delicado e com um 2023 que será muito difícil para as famílias portuguesas. Aliás, estou convicto que um dos portugueses mais indignados com este caso que provocou mais um dano reputacional no Governo é o próprio António Costa, que não tem qualquer obrigação de saber tudo o que se passa na gestão empresarial do Estado e delega e confia nos seus ministros essas tarefas, bem como as escolhas das suas equipas.
Não podemos esquecer que o primeiro-ministro, na recente entrevista à “Visão”, desvalorizou os inúmeros casos e “casinhos” que já afectaram o Governo. Contudo, foi peremptório ao confirmar que o caso mais grave que ultrapassou foi o do “excesso de voluntarismo” (palavras minhas) de Pedro Nuno Santos, ao anunciar sem rei nem roque em conferência de imprensa, e em múltiplas entrevistas, a escolha sobre o novo aeroporto de Lisboa, algo que custou uma humilhação pública ao ministro.
Agora é da mesma órbita que gravita este tsunami que desagradou à totalidade dos portugueses, incluindo os militantes do PS, e que levou à demissão de Alexandra Reis.
Mas, diga-se também, que houve um caso de incompetência e sobranceria do Governo, pois era óbvio que esta secretária de Estado só tinha duas hipóteses de matar o tema com uma réstia de dignidade: devolver o dinheiro ou apresentar a demissão. Não fez nada do que devia e ainda meteu a cabeça de fora baseando-se na “legalidade” do acto. Ora, uma governante que não sabe o que é imoral não pode estar no Governo e por isso foi demitida. O problema é que demoraram 48 horas (a tal incompetência e sobranceria) a tomar uma decisão que estava escrita nas estrelas.
Só que o assunto não pode morrer aqui, porque a TAP já custou milhares de milhões aos portugueses. Agora mais uma injecção de centenas de milhões numa companhia que sabemos irá ser reprivatizada, com prejuízo para o erário público, depois de Pedro Nuno Santos ter andado a brincar com ela. Eu não quero ser accionista da TAP, mas enquanto ela for de todos os portugueses tem de ser severamente escrutinada, porque a sua gestão cheira demasiado a esturro. E os portugueses estão fartos de escândalos com o seu dinheiro. Pedro Nuno Santos sai, não tinha alternativa, mas a procissão ainda pode bem ir no adro.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.