O acordo atual que orienta as decisões sobre o impacto humano no clima do planeta, o Acordo de Paris, com alguns meses de idade, tem, na sua filosofia, muitas diferenças face ao obsoleto Protocolo de Quioto. Neste havia um limite global das emissões de gases com efeito de estufa, distribuído pela maioria dos países desenvolvidos. No Acordo de Paris, os países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento são responsabilizados, à partida, numa medida voluntária, e comprometem-se com uma meta, de acordo com as suas capacidades e circunstâncias.
Esta ideia foi o slogan promocional da grande viragem da política climática. Atualmente, também a nossa ‘nave espacial Terra’ conta com intenções de novos e essenciais tripulantes, que não faziam parte dos compromissos de redução de emissões anteriores, como os EUA, China, Índia, países africanos ou pequenos Estados-ilha, entre outros. Mas, não fugindo à praxe, as dúvidas recaem sobre a posição que os EUA irão tomar.
A principal razão para a não participação num acordo internacional sobre o clima é o incentivo ao free riding. Por que é que havemos de pagar por um bem ou serviço, como a conservação do planeta, se esta for garantida e paga pelos demais? Nos últimos anos, vários autores, à frente dos quais Nordhaus, começaram a defender o clima como um bem de clube que, com sanções aos não associados a esse clube, permite resultados promissores. Em concreto, o recente candidato ao Nobel da Economia propõe um clube com um objetivo de preço de carbono e penalidades tais como tarifas às importações de países não-sócios.
Faz então sentido chamar Clube de Paris ao conjunto de países integrantes no Acordo daquela cidade. O que parece estar em falta são as sanções aos não membros. Na discussão existem os que acabam por ser “anti-qualquer-tipo-de-acordo”, pois defendem fortes penalizações, como multas internacionais, o que é um contrassenso por causa do tal free riding. Existem também os esperançosos, que entendem que os EUA querem apenas manter-se no clube das energias rentáveis e, por isso, reforçam a ideia de que é um negócio lucrativo apostar nas renováveis. Porém, existem ainda os dramáticos que consideram a hipótese da miopia ou de condutas irracionais, que são, à partida, excluídas de modelos como o proposto por Nordhaus.
Mas, e se os EUA se encontrarem nesta categoria? Se forem como a personagem da Trilogia da Fundação de Isaac Asimov, o Mula, que, por atuar individualmente com características absolutamente imprevisíveis, destrói os pressupostos e o modelo de Hari Seldon que considera que ninguém, sozinho, pode ter um impacto mensurável nas tendências socio-históricas da galáxia? Por mais que esta imagem assuste, não creio que as ações futuras dos EUA sejam inconsequentes.
Na verdade, o Clube de Paris mantém os membros por causa do incentivo tipo “cenoura” que apresenta, tais como os planos nacionais para o desenvolvimento e incentivos ao progresso e transferência de tecnologia, e não por um eventual “pau”, como os impostos à importação, que têm o comprovado problema das tarifas de retaliação – vejam-se as trocas comerciais EUA-China. Os EUA estão somente a reavaliar se a cenoura é do seu agrado. Mas, por causa do seu papel de líder, seria conveniente desligar as indicações de saída de emergência do clube para que cada país continue a focar-se no seu desenvolvimento sustentável. Portugal já tornou a cenoura mais apetitosa, propondo-se ser neutro em carbono em 2050. Quantos mais se seguirem, mais interesse haverá numa inscrição premium com fidelização ao clube, e acesso às vantagens exclusivas da sua própria conservação.