O primeiro-ministro António Costa deu-nos conta ao fim da tarde de sábado da aprovação da proposta do Orçamento do Estado para 2020. Com meia dúzia de palavras e algumas dezenas de caracteres através do Twitter se anunciou o contorno do que será o nosso condicionamento financeiro público do próximo ano.
São inúmeras as vezes que o chefe do Executivo tem usado este meio para comentar as notícias de que não gosta, para comemorar efemérides que entende relevantes e para nos avisar que acompanha a ação dos seus ministros. Assim, sabemos em tempo real a agenda do primeiro-ministro, com atualidade, mas sem profundidade ou dimensão estratégica. Tal como outros que fazem do Twitter a sua imagem de comunicação.
Desde há alguns anos, e de forma crescente, que se recorre ao anúncio de grandes decisões através deste meio simples, renunciando às grandes apresentações e comunicados para agências noticiosas sem pompa ou qualquer circunstância. Democratiza-se o anúncio sem contraditório, para mais tarde justificar perante a opinião pública.
Este instrumento tem causado grandes dissabores pela perenidade do seu uso. Donald Trump tem sido um pródigo utilizador, deixando cair ciclicamente uma frase bombástica ou uma decisão singular, normalmente crua e dura, buscando um efeito de elefante numa loja de porcelana num sepulcral silêncio. Trump sabe bem os impactos do que publica, seja pondo em risco a estabilidade das bolsas mundiais seja fomentando uma reação mais ríspida de um governante de potência mundial.
Porém, não nos iludamos. Ninguém recorre a este método de forma impensada ou impulsiva, nem resulta de atos amadores. Este comportamento obriga a refletir sobre os novos modelos de comunicação e o acesso mais direto, menos filtrado, e provocador de notícias, posições e decisões que transformam e transtornam o nosso presente. Todos temos plena consciência disso.
O sistema foi já usado para publicitar eventos a nível nacional ou global. Serviu para convocar movimentos sociais e políticos fomentando o debate ou promovendo manifestações várias. E já não são estranhas campanhas que levam junto aos utilizadores, produtos ou notícias de impacto imediato. Face à sua popularidade, políticos usam o Twitter como um meio para atingir rapidamente uma faixa de destinatários muito específica, muita informada e muito participante.
O Twitter já foi usado para despedir governantes em direto. Por mais de uma vez formos informados, em tempo real, de demissões, readmissões ou renovadas demissões. Ainda recentemente Trump foi notícia por ter comentado a escolha de Greta Thunberg como personalidade do ano pela “Time”, ao que aquela não perdeu muito tempo a responder-lhe pela mesma via.
Esperamos que o exemplo das demissões em direto não frutifique e que António Costa, depois de ter repudiado divergências com Mário Centeno por tweet e apesar de um orçamento consagrar um excedente do Ministro, o Ministro se torne um excedente.
Até São Nicolau sabe que a melhor forma de contactar com as renas é através do Twitter. Não tarda do alto do seu trenó em vez de gritar, irá tweetar “Merry Christmas”. E assim, em vez de uma estrela e do Anjo Gabriel indicarem o Nascimento pairando sobre uma gruta e uma manjedoura, nos tempos modernos o Pai Natal anunciará por tweet um… Feliz Natal.