Numa altura em que as eleições se aproximam e os partidos preparam as suas campanhas, contendo estas medidas de todo o tipo, é pertinente falarmos do mais recente relatório do IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que prevê um futuro pouco sorridente para o planeta Terra e para a Humanidade.

Este painel foi criado há precisamente 33 anos pela Organização das Nações Unidas e, desde então, elaborou cinco grandes relatórios, a partir da compilação de dados apurados por vários especialistas de diversas áreas, que os analisam e procuram compreender os fenómenos que o nosso planeta sofre e continuará a sofrer.

Às 17h00 (horário de verão da Europa Central) do dia 7 de agosto de 2021, publicava-se aquele que é um dos relatórios mais assustadores e temíveis de sempre, e que nos afeta a todos e cada um de nós, sem exceção. O 6º relatório do IPCC não é brando no que toca a apontar culpados pelo acelerado e sem precedente aquecimento do nosso planeta: a influência humana.

O relatório apontou alguns dos cenários possíveis, que se repartem entre otimista, intermédio e negativo. Seguindo esta ordem, a possibilidade de um cenário mais risonho crê que se diminuirmos já as emissões de gases com efeito de estufa, conseguiremos chegar ao ano de 2050 com zero emissões e fixar o aquecimento global em cerca de 1,5° C até o final do século.

O cenário intermédio admite que se as emissões se mantiverem nos níveis atuais, as temperaturas atingirão um aumento de 1,5° C até ao ano de 2040.

Finalmente, e num cenário mais negativo, o relatório reconhece que, se as emissões continuarem a duplicar em relação aos valores atuais, a temperatura global aumentará até 2° C até 2060 e 2,7° C até ao ano de 2100.

O acelerado aumento da temperatura, a perda da capacidade de absorção e captura do dióxido de carbono da atmosfera e a redução deste no ar, assim como a subida do nível da água do mar, as chuvas fortes e inundações, furacões e ciclones tropicais, são algumas das consequências que já vivenciamos e que se multiplicarão num futuro bem próximo.

No que toca à lei do karma, este parece não adormecer quanto à questão do planeta Terra. A espécie humana sofre atualmente consequências devastadoras, como as ondas de calor que têm continuamente afetado milhares de pessoas, como aconteceu recentemente na América do Norte e na região Oeste do Canadá.

António Guterres é taxativo no tom que usa quando apela a todos os países que cessem novas explorações e produção de combustíveis fósseis, reforçando a sua substituição por recursos renováveis. Mais ainda, o secretário-geral da ONU defende convictamente que a capacidade eólica e solar tem de quadruplicar até 2030, assim como os investimentos em energias renováveis.

O relatório senta, de forma clara e inequívoca, a espécie humana na cadeira do réu e reforça que a Humanidade tem de se esmerar na redução das emissões, para atrasar (ainda que lentamente) alguns dos efeitos que inevitavelmente as gerações vindouras, injustamente, sofrerão. Ademais, o relatório prognostica que a mudança climática terá impactos socioeconómicos austeros, mormente em países em desenvolvimento, contribuindo para o aumento das desigualdades no nosso planeta, a única casa partilhada que temos.

É categórico que façamos a nossa parte, demos cada um a nossa contribuição, mesmo sendo conscientes de que a nossa passagem por cá não será eterna. É igualmente perentório que deixemos o planeta da mesma forma que um dia o encontrámos, para que as gerações futuras desfrutem do que outrora também desfrutámos, com a mesma qualidade, conforto e bem-estar.

E, com tanto mal que temos vindo a fazer, devemos até ir mais longe: tudo fazer para que deixemos este mundo melhor do que o encontrámos. A paz da Humanidade também terá de ser ambiental.