A fábrica de regras da União Europeia entrou em processo de produção industrial descontrolada há muitos anos. A nossa vida está toda ela regulamentada ao mais absurdo detalhe. A explicação para esta tendência delirante é evidente: além da natural vocação humana para aspirar à suprema glória de mandar nos outros e dar-lhes ordens parvas, há outra justificação igualmente prosaica: cada regra vale umas coroas, cada alínea pode dar a ganhar milhões a alguém e isso é um estupendo incentivo para legislar e criar obrigações a torto e a direito. Eu que fabrico elevadores – tecnicamente: ascensores – sei bem do que estou a falar.

Obviamente, é mentira –, mas imaginemos que sim, que faço elevadores em grande número, talvez até para a Europa inteira. Os meus clientes estão em 27 países, um mercado de 447 milhões de pessoas. A minha vida é um sobe e desce permanente, mas galga em flecha logo que surge uma nova obrigação “em nome da segurança das pessoas”, também conhecidas como utentes. Oh que maravilhosa e multiplicadora frase: “Em nome da segurança dos utentes” – há qualquer coisa de revolucionário nesta afirmação, embora revolução já devidamente amansada em burocracia. O povo virou cidadão e daí foi um passo até tornar-se magnífico utente, via verde para todas as ambições e desmandos.

Proteger o utente sinaliza uma oportunidade: a carteira pode engordar. É por isso natural que eu oiça imediatamente o repicar dos sinos. Alguém imagina a quantidade de regras e obrigações que existem e os extremos a que continuam a ir? Almejam certamente a perfeição mais rarefeita e imaculada. É sabido que as extravagâncias técnicas são caras – e, por isso, os elevadores custam cada vez mais ou então não baixam de preço como é suposto acontecer numa tecnologia tão básica e antiga (3500 anos…) que não tem como ficar mais segura.

O resultado é que tudo isso também contribui para a subida a pique dos preços das casas. Eu não excluo o salivar dos empreiteiros na responsabilidade pela escalada do metro quadrado, mas há muitos contributos escondidos e não apenas nos elevadores: nas paredes, nas caves, nas garagens, no ar condicionado, na energia – é um admirável metaverso de regras que tem como desígnio a expansão eterna.

Pelo caminho, lixam-se as casas, digamos, normais que poderiam ser mais baratas. Só há uma solução para a pornográfica golpada: desligar a máquina burocrática, boa parte dela, deixar claro que percebemos que por trás destes impulsos criativos da UE estão demasiadas vezes os príncipes profissionais da sugestão lucrativa, os cortesãos de Bruxelas, e não confiáveis servidores públicos. A burocracia mascarou-se de segurança, justiça, saúde e ambiente, até de amor se disfarçou. Belas causas nobres que, verdade, verdade, são rápidos elevadores para o nirvana.