A gestão da política externa europeia em relação à Rússia nos últimos anos demonstra uma preocupante falta de visão estratégica. Ao aderir quase automaticamente às sanções promovidas por Washington, muitas lideranças europeias parecem ignorar uma realidade geográfica e histórica inescapável: a Rússia é e sempre será vizinha da Europa.
A suposição de que o crescente isolamento da Rússia contribuirá para a paz e estabilidade do continente é, no mínimo, ilusória. A lógica das sanções, derivada do contexto da Guerra Fria, tende a fortalecer ressentimentos, solidificar alianças alternativas — como a parceria estratégica aprofundada entre Rússia e China — e enfraquecer a capacidade mediadora da própria Europa. A política de contenção em prática reflete mais antigas rivalidades do que uma aposta sensata no futuro.
Ao adotar elementos centrais da agenda norte-americana, a Europa compromete sua autonomia estratégica e se afasta de uma solução sustentável para os desafios continentais. Em vez de promover a estabilidade, a exclusão sistemática da Rússia provavelmente gerará maiores tensões. Uma política de boa vizinhança, baseada no diálogo, na interdependência econômica e na confiança mútua, seria muito mais eficaz na construção de uma paz duradoura.
Não se trata de desconsiderar as complexidades do cenário atual, mas de reconhecer que a Rússia é um ator estrutural do sistema internacional e que sua marginalização representa um erro de cálculo. Ignorar a Rússia é ignorar parte da própria história, geografia e segurança europeias.
Além disso, num contexto de transição geopolítica global, com a ascensão dos BRICS e o gradual enfraquecimento do G7, a Rússia integra o núcleo central do novo arranjo internacional. A ordem emergente terá, cada vez mais, um centro de gravidade no Sul Global, com protagonismo de países como China, Índia, Brasil, África do Sul e, evidentemente, a própria Rússia. A nova governança global exigirá pontes e não muros.
Para a Europa, manter canais abertos com Moscou não é um gesto de condescendência, mas uma necessidade estratégica. Trata-se de preservar relevância global num mundo em reconfiguração. Isolar a Rússia é, em última instância, isolar-se das novas dinâmicas do século XXI.
Reaproximar-se da Rússia com inteligência e prudência não implica aceitar todas as suas posturas, mas compreender que a estabilidade continental depende, inevitavelmente, da construção de uma arquitetura de segurança inclusiva. A paz na Europa não será alcançada pela exclusão, mas pelo engajamento responsável.