Larry Kudlow, o notável consultor económico do não menos notável ex-presidente americano “o Donald” (não ler O’Donald, que será um insulto ao Povo Irlandês, mais de coração com Biden), fez mais uma declaração bombástica semelhante a outras que pôs na boca de Trump: o programa de estímulos de Biden está votado ao fracasso porque os americanos vão gastar o dinheiro dos cheques na compra de ações da GameStop, uma empresa norte americana que vende jogos de computador.

É sabido que o americano médio da working-class, conceito que Kudlow ainda não assimilou por lhe ser impossível compreendê-lo, destinatário dos cheques de Biden, tem como sua principal atividade jogar na bolsa. Aliás, os americanos típicos são como cangurus, cujas crias jogam na bolsa desde que nascem.

Vêm-nos instantaneamente à memória a imagem dos americanos pobres que vivem debaixo das pontes a aquecerem-se no Inverno, dedos de fora das luvas sebentas, sentados à volta de um bidão com algo a arder para se aquecerem, a jogarem monopólio fervorosamente. Alguém devia lembrar a Kudlow que Maria Antonieta disse, quando foi informada que o povo francês se queixava de não ter pão, “que comam brioches”. Depois, perdeu a cabeça.

Desde já se diga que o bem fundado das recomendações de Kudlow, consultor económico, fica patente na evidência empírica recolhida em julho pelo Census Bureau, que aponta a que quase 90% dos recipientes de apoio económico com rendimento anual inferior a 25 mil dólares tenciona gastar o dinheiro destes cheques em despesas correntes. Com a barriga a dar horas é difícil jogar, até na bolsa.

Kudlow, pelo seu lado, pôs a mulher a solicitar apoio económico num sistema de apoios destinado a pequenas e médias empresas quando tem milhões. Usando o seu próprio argumento, em que ações teria ela investido? Não na GameStop, de certeza. É que as ações da GameStop subiram, entre dezembro e fevereiro, de 15 dólares para 100, portanto um bom investimento.

Kudlow recomendou ele próprio, em 25 de fevereiro na CNBC, a compra de ações, altura em que o S&P500 estava a 3.128; quinze dias depois fechou a 2.746, uma perda de 14%. Bill McBride dizia dele, no Blog Calculated Risk em dezembro de 2016, que “Larry Kudlow is usually wrong and frequently absurd”, e relembra que em dezembro de 2007, mês em que começou a recessão nos EUA, ele escrevia “there’s no recession coming. The pessimists were wrong. It’s not going to happen.” O resto é História.

Não que Kudlow – o não-economista que Trump fez diretor do National Economic Council – não seja um bom consultor económico. Há dois tipos de bons consultores económicos: os que estão sempre certos, que nos dão as boas recomendações, a serem seguidas; e os que estão sempre errados, e é só fazer o contrário.