Chegado o mês de janeiro, é sempre com enorme interesse que leio o número especial da revista “The Economist”, dedicado às visões e reflexões dos seus colaboradores para o ano que se inicia. Neste “The World in 2020”, entre muitos outros artigos que poderia relevar, dois despertaram-me a atenção por tratarem de um tema que muito tem a ver com a implosão demográfica vivida no nosso país; o dos “young old”, ou “yold”, como são agora designados após a expressão ter surgido no Japão para categorizar quem tem entre os 65 e os 75 anos.
Como salienta John Parker, autor de um dos artigos, os “baby boomers” agora que são “yold” não estão a reformar-se. Continuam a trabalhar, a estar socialmente empenhados, e são mais ricos, saudáveis e numerosos do que as gerações de seniores que os precederam. Aliás, como o artigo destaca, um estudo alemão comprovou que pessoas que continuam a trabalhar depois de atingirem a idade normal de reforma são menos propensas ao declínio cognitivo associado ao envelhecimento.
Mas, mais do que isso, os “yold” podem vir a ser um importante motor de mudança nos países mais desenvolvidos. Desde que, como aponta o mesmo artigo, se verifiquem alguns dos fatores sem os quais tal não será possível: uma mudança de atitude perante os cidadãos ainda ativos, mas com mais idade, garantindo-lhes ao nível da formação, por exemplo, as mesmas possibilidade que nas empresas são dadas aos mais novos. O mundo empresarial terá de ser mais “age friendly”.
Depois, uma alteração nas políticas governamentais que fazem da reforma um precipício quando deveria ser uma rampa, para usar a expressão de John Parker. E, finalmente, uma mudança drástica no investimento colocado em prevenção na área da Saúde e que atualmente é de apenas 2 a 3% na maior parte dos países. Na próxima década, 2030, haverá muitos “yold” com mais de 75 anos. E o nosso sistema de saúde terá de estar preparado para tal.
Noutras páginas da mesma revista, Joel Budd, o editor de “Social Affairs” chama a atenção também para o facto de que foram os votantes com mais idade, e não os jovens, que elegeram Trump e escolheram dizer sim ao Brexit. Em 2020, pela primeira vez, a média de idade do ser humano será superior a 30 anos. Que nos diz a nós, portugueses, tudo isto? Deverá dizer muito, tendo em conta que o último saldo natural negativo apurado pelo INE foi o maior dos últimos anos e que, entre 2013 e 2018, a idade média da população residente em Portugal passou de 43,1 para 45,2 anos. Ou seja, muito mas mesmo muito acima dos 30 anos de idade em média, referenciados pela “The Economist”.
Em suma, temos muitos “jovens velhos” em Portugal. E ainda viremos a ter mais. É imprescindível ter consciência disso quando se definem orçamentos e políticas públicas, mas também planos de negócio e investimentos. A mudança demográfica que vivemos não é apenas uma questão sociológica, é também económica e afetará o setor público como o privado. Profundamente.
Na altura em que escrevo os números, já de si impressionantes, não cessam de aumentar. Pessoas, animais, árvores, vítimas das chamas neste “apocalipse nacional” como lhe chamou o ex-primeiro-ministro australiano, Kevin Rudd. Há sempre um sentimento de impotência nestas situações, como nós portugueses bem sabemos depois do que temos sofrido com os incêndios. Para o povo australiano deve ir toda a nossa solidariedade.