“Este governo não há-de cair – porque não é um edifício. Tem de sair com benzina – porque é uma nódoa!”. Eça de Queirós in “Conde de Abranhos”

 

Há muito que este Governo perdeu o rumo. Minado por uma confrangedora incompetência que se vem acentuando a cada dia que passa. Os problemas permanecem inamovíveis, ou até se vão multiplicando, e a inércia, inépcia e falta de competência, crescendo em terreno fértil, seguem o seu caminho natural.

Este Governo tem ministros para todos os gostos – um bronco e trauliteiro que foge consecutivamente à sua responsabilidade culpando sempre terceiros, outro que acredita no Pai Natal, outro que de saúde… estamos conversados! De uma forma geral, este Governo está muito mal servido, e à medida que o tempo passa e os problemas se avolumam, os portugueses vão-se apercebendo da sua fragilidade.

Como se não bastasse o fraco elenco ministerial, temos um primeiro-ministro que não quer alterar o estado das coisas, que é como quem diz, retirar de funções aqueles menos aptos e fazer uma substituição. Isto seria o mínimo, uma vez que não pode substituir todos os ministros.

Para falar honestamente, nunca percebi – e a crítica é para este e todos os governos que o antecederam –, por que razão não estão em lugares ministeriáveis personalidades que se têm distinguindo com sucesso, ao longo do tempo, na vida empresarial, e que sabem como se faz e sobretudo como se cria valor para os cidadãos.

Se olharmos para todos estes governos da democracia portuguesa, quem é que vemos nos ministérios (ministros, secretários de Estado e quejandos)? Todos aqueles que começaram nas juventudes partidárias, que foram calcorreando de forma serventuária os corredores bafientos do poder, e que chegam a lugares não pela exponenciação do Princípio de Peter, mas sim por essa mesma caminhada que é amparada e benzida por aqueles que, entretanto, já estão em patamares superiores.

Todo este percurso está viciado. Raramente são os melhores, aqueles que se distinguem nas Universidades e depois na economia real, os escolhidos para governar o país. São, sim, aqueles que mais influências conseguem congregar e arregimentar ao longo dessa estrada serventuária do poder.

Recordo-me de uma excepção, em que um governo anterior foi buscar um ministro (da Economia) de grande sucesso no mundo empresarial, mas que acabou por não resistir à pressão que o status impôs.

Todos temos a perder quando quem nos governa não é competente e não exerce da melhor forma o poder que o povo conferiu ao partido ao qual pertence. O povo vota num partido, convencido de que este irá apresentar os melhores governantes, os mais competentes, aqueles que ajudarão o país a crescer e a criar melhores condições de vida para esse próprio povo. Mas com todos estes anos de más experiências, o povo votante (cada vez menos), já se vai convencendo que os escolhidos não serão os melhores, mas sim aqueles que mais frequentam as sedes dos partidos.

O povo também sabe que as amizades imperam quando chega a hora de uma nomeação. Sempre assim foi. Por acaso já se viu algum governo nomear um ministro, de comprovada competência, mas que seja de um partido que não o seu? Ninguém viu! Fala-se, quanto muito, dos independentes” que de independente nada têm.

E aqui nasce o propalado clientelismo político.

Enquanto não houver coragem da parte dos governos para “saltarem a cerca” do clientelismo partidário e virem à sociedade civil, não filiada, contratar os melhores, esta situação nunca será invertida e Portugal em vez de dar passos em frente, caminha para o lado ou para trás.

Quem tem o poder da máxima decisão, tem de ter a coragem de, perante situações rdadeiramente escandalosas, deixar a amizade de parte, e varrer energicamente todos aqueles que se mostrem inaptos, que fujam às suas responsabilidades e sejam incompetentes. É preferível assumir o erro a escamoteá-lo.

É por todos os erros que se têm cometido neste curto ano de legislatura, que todos vêem que este Governo perdeu o rumo e não tem coragem para o corrigir.

Para finalizar, não resisto a citar de novo Eça de Queirós, no seu “Conde de Abranhos”: «”Quantas vezes me disse o Conde ser este o segredo das Democracias Constitucionais: “Eu, que sou governo, fraco mas hábil, dou aparentemente a soberania ao povo, que é forte e simples. Mas, como a falta de educação o mantém na imbecilidade, e o adormecimento da consciência o amolece na indiferença, faço-o exercer essa soberania em meu proveito… E quanto ao seu proveito… adeus, ó compadre!
Ponho-lhe na mão uma espada; e ele, baboso, diz: eu sou a Força! Coloco-lhe no regaço uma bolsa, e ele, inchado, afirma: eu sou a fazenda! Ponho-lhe diante do nariz um livro, e ele exclama: eu sou a Lei! Idiota! Não vê que por trás dele, sou eu, astuto manejador de títeres, quem move os cordéis que prendem a Espada, a Bolsa e o Livro!”».

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.