Na primeira versão da capa da semana passada tínhamos um título a puxar para um lado e outro, logo abaixo, que apontava no sentido oposto. O analista Wolfgang Münchau dizia que a Alemanha tem de desindustrializar-se para investir nas novas tecnologias de perfil digital. Já Armindo Monteiro, presidente da CIP, insistia que Portugal tem de industrializar-se ou ficará para trás.
A escolha entre um caminho ou outro tem naturalmente a ver com os problemas concretos de cada um destes países, sendo certo que os alemães estão a afogar-se numa indústria pesada que está a passar à história, enquanto Portugal, apesar de estarmos em 2025, continua a ter uma insípida indústria nacional. A discussão é interessante e talvez o caminho a seguir esteja a meio destas duas estradas; mas o que é desarmante é a ausência de discussão sobre o assunto, mesmo em campanha eleitoral.
Como não há uma única cara nova entre os candidatos das eleições de domingo – são todos repetentes – o desfile de ideias a que assistimos nas últimas semanas foi dos mais pobres de sempre. Os media têm responsabilidade nesta vacuidade, porque o modelo de cobertura jornalística está mais próximo do TikTok do que do trabalho editorial exigente, mas também convém sublinhar que dificilmente as campanhas podem ter espessura se no período anterior o debate público for medíocre – como tem sido em Portugal nos últimos anos.
E, no entanto, os sinais de alarme estão todos a piscar: a crise económica estrutural na Alemanha pode levar, a prazo, à desintegração europeia, porque haverá menos dinheiro para gerir e gastar. Isto significa que Portugal não pode dar-se ao luxo de não programar o futuro. O próximo governo tem, por isso, o dever de ir além da gestão das circunstâncias. O país precisa de um governo para a legislatura.