O Dia da Sobrecarga da Terra (ou Earth Overshoot Day) ocorreu, este ano, no dia 1 de agosto – um dia mais cedo do que no ano passado, o que mostra que estamos a regredir em várias frentes. Embora haja razões para algum otimismo, a realidade é que devemos fazer mais — e mais rapidamente.

Este dia é importante porque assinala o momento em que já utilizámos mais recursos do que a Terra pode repor num ano, o que significa que vai muito além do que diz respeito à energia. É necessário que olhemos para produtos, processos e padrões de consumo.

Eu acredito que a circularidade é a resposta – mas o que é este conceito, e o que faz dele a escolha inteligente para qualquer empresa?

Circularidade: um círculo virtuoso económico

Tal como a missão da Fundação Ellen MacArthur retrata lindamente, a circularidade é um “enquadramento para uma economia que é restaurativa e regenerativa por natureza”.

A economia circular está a crescer rapidamente a nível global, à medida que empresas e governos reconhecem o seu potencial para enfrentar as causas principais das alterações climáticas e outros desafios globais, enquanto gera novas e melhores oportunidades de crescimento.

A circularidade é, fundamentalmente, uma boa gestão da energia. Dar prioridade à reutilização e regeneração de materiais e produtos mantém a energia incorporada durante o máximo de tempo possível. Preservar essa energia, em vez de exigir mais, é a mudança de mentalidade necessária para reduzir a procura de energia. Contudo, saber isto nem sempre é suficiente para tornar a circularidade numa prioridade para as empresas.

Como defender a circularidade nos negócios

Uma transformação circular exige que as empresas repensem como os seus produtos são produzidos e utilizados. Para muitas, representa um modelo de negócios completamente novo – mas separar o crescimento de negócios da extração de recursos é uma das melhores formas que as empresas podem encontrar para resolverem algumas das suas principais preocupações atuais. Eis alguns exemplos:

  • Conformidade: A nível global, as autoridades estão a implementar normas ambientais mais rigorosas em relação à circularidade, como o Plano de Ação para a Economia Circular da UE. A circularidade é também uma das melhores formas de reduzir as emissões de Alcance 3, que é um foco cada vez maior da redução de emissões e deve ser considerado nas decisões.
  • Custos: Os preços das matérias-primas têm sido voláteis graças à pandemia e à situação geopolítica. A atual disrupção da cadeia de abastecimento global fez disparar os custos de produção de matérias-primas – mas através da circularidade podemos reduzir a procura por produtos brutos.
  • Clima: A circularidade é um alicerce dos objetivos de clima e sustentabilidade. Uma estratégia circular poderia reduzir para metade as emissões de carbono da UE até 2030 nos sistemas de mobilidade, alimentação e ambiente construído.
  • Clientes: 78% dos consumidores diz querer fazer compras a empresas amigas do ambiente. A circularidade dá resposta às necessidades de mercados cada vez mais conscientes em relação à sustentabilidade.

Apesar dos benefícios óbvios para os negócios, a circularidade é uma tendência em declínio. A economia global é apenas 7.2% circular atualmente, em comparação com 8.6% em 2020 e 9.1% em 2018, segundo o Circularity Gap Report 2023, apesar de as empresas poderem ganhar uma vantagem sobre os concorrentes se adotassem este caminho. Então, quais são os passos que devem seguir para desbloquear os inúmeros benefícios?

Um modelo para uma economia circular de sucesso

Para alcançar a circularidade, as empresas devem construir um plano robusto com uma visão holística de toda a sua cadeia de abastecimento; depois digitalizar-se para compreender e monitorizar a energia e o carbono em tempo real; e por fim descarbonizar-se. Eis como.

Primeiro, têm de criar e inovar com a circularidade no centro das suas decisões. Devem considerar os fatores que vão permitir que o produto seja melhor utilizado, utilizado por mais tempo e utilizado novamente. A modularidade no design dos produtos permitem que seja fácil substituir peças no futuro.

De seguida, têm de consumir melhor. Devem escolher materiais melhores, tanto para os produtos como para as embalagens, optando por materiais sustentáveis que já tenham sido reciclados ou que o possam ser. Por exemplo, o aço reciclado, produzido de forma renovável num forno elétrico, pode ser utilizado nos quadros e armários elétricos e reduz as emissões em 70% em comparação com o aço normal.

Para além disso, têm de produzir melhor, garantindo que as suas fábricas limitam o desperdício, circulam os resíduos internamente e os enviam de volta para a sua fonte. Têm também de utilizar os recursos por mais tempo, e devem ajudar os seus clientes a prolongar a vida útil dos produtos, efetuando manutenção e reparações. É necessário também recorrer a analítica e à Inteligência Artificial para monitorizar quando os produtos precisam de manutenção e como se pode prevenir o desgaste.

Finalmente, têm de reutilizar, recirculando produtos, peças e materiais através da sua redistribuição e recondicionamento. Devem também aproveitar ao máximo os serviços de retoma e recompra, utilizando logística reversa para retomar produtos dos clientes quando chegam ao fim do seu ciclo de vida.

De forma lenta, mas segura, cada mais organizações estão a começar a perceber as poderosas vantagens da circularidade – mas a verdade é que qualquer um pode alcançá-la, até porque a tecnologia que é necessária já existe para nos colocar no caminho certo. Agora, cabe simplesmente às organizações tirar partido dela. Estarão prontos?