Em Espanha, o braço-de-ferro político teve como consequência o chumbo do Orçamento, o fim do governo do PSOE e a convocação de eleições por Pedro Sánchez – as terceiras em quatro anos. Os independentistas catalães que há oito meses apoiaram Sánchez a derrubar Mariano Rajoy com uma moção de censura, recuaram no apoio ao Orçamento e o governo caiu com estrondo.

Do outro lado da barricada, os partidos de direita, do centro à extrema-direita, Ciudadanos, PP e Vox, formaram uma aliança. Replicam a nível nacional o que já tinha ocorrido em Dezembro na Andaluzia, onde derrubaram a socialista Susana Díaz e um reinado de 36 anos consecutivos do PSOE. No dia 10 de Janeiro voltaram a unir-se em Madrid, atraindo milhares nas ruas, numa manifestação para exigir novas eleições legislativas. Foi um teste de força e deixaram para a história uma fotografia: Albert Rivera, Pablo Casado e Santiago Abascal – os líderes dos três partidos a posarem juntos, colocando as diferenças ideológicas de lado.

A última sondagem do jornal “El País” prevê uma maioria parlamentar do PP (21%), Ciudadanos (18%) e Vox (11%) por um deputado. PSOE e Podemos com 24% e 15%, respectivamente, não alcançam uma posição que lhes permita governar. Uma coisa é certa, faliu de forma inequívoca a hegemonia do sistema bipartidário (PSOE e PP) que reinou durante décadas.

Sánchez centra agora a sua campanha na difusão do medo da radicalização da direita aproveitando a aliança ao Vox. O líder dos liberais Ciudadanos não se deixa intimidar e defende que a prioridade é combater os inimigos de Espanha, sendo que Sánchez é o rosto da desunião no território.

O Podemos, com os sucessivos escândalos de financiamentos e a guerra interna na cúpula de direcção, perdeu a sua influência em termos nacionais. Sánchez precisa do Podemos, mas a situação frágil do partido pode comprometer ainda mais a sua posição. Descrito como um líder com uma capacidade de resiliência e determinação fora do comum, o PSOE não tem outro candidato e Rivera fez um xeque-mate – só pondera uma coligação com o partido se Sánchez abandonar a liderança.

Na direita, o PP tenta uma renovação depois da queda de Rajoy e os múltiplos escândalos de corrupção. Pablo Casado endureceu o discurso, deixa o combate pelo centro-direita aos liberais, posiciona-se como partido conservador e, apoiado no Ciudadanos e Vox, almeja reconquistar votos.

O Vox, partido criado por uma facção de dissidentes da ala mais conservadora do PP, gera grande contestação. Segundo uma sondagem do jornal “El Español”, 47,3% dos inquiridos considera o partido uma ameaça à democracia, mas 43,9% pensam o mesmo do Podemos, partido de extrema-esquerda.

Qual é afinal o grande objectivo desta coligação das direitas espanholas, ainda que temporária? Uma Espanha una. Os dados estão lançados.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.