No momento em que o PSD lança o slogan “Unir Portugal” (na minha opinião melhor teria sido “Unir os Portugueses”), alguém no governo em fim de vida lançou um grafismo dito logotipo digital para a Administração Pública que desfacela e elimina os elementos gráficos identitários legais do nosso Estado-nação, alienando boa parte da opinião pública portuguesa.
As cores verde e vermelho da bandeira portuguesa foram separadas por uma barra branca sugerindo as cores e o ordenamento visual da bandeira italiana (verde, branco e vermelho). Sobre a barra branca foi colocado um círculo amarelo que os memes nas redes sociais rapidamente substituíram por um ovo estrelado.
Mil anos de história condensados num emblema, numa heráldica de belo efeito, foram expurgados. O escudo português, elemento qualificativo da bandeira nacional, utilizado com notável impacto e bom gosto nas camisolas das seleções nacionais e que expressa Portugal nas bandeiras, estandartes e fardas das forças armadas, foi sem cerimónia nem consulta democrática guilhotinado pelo wokismo anti português.
Do ponto de vista técnico, o resultado não responde sequer aos requisitos do que deve ser um logotipo para utilização digital, que se pretende compacto, delimitado num círculo ou quadrado, e não por um extenso retângulo. Por seu lado, a forma do escudo de Portugal é inerentemente adequada ao design digital.
O logotipo é vácuo de significado, possivelmente ilegal, e é uma confusão gráfica sob o argumento falacioso de que é “laico”. É uma imagem abstrusa, incompetente, ofensiva dos nossos antepassados.
O azul e branco do fundador, Afonso Henriques, manteve-se até ao século XX. Mas, graças à teimosia de Columbano Bordalo Pinheiro e de outras quatro pessoas, foi abandonado o azul e branco tradicional da Europa cristã para se entrar na iconografia da cultura islâmica. O verde é a cor sagrada do Islão representando o paraíso. O nosso escudo fez a diferença.
As cores originais foram abandonadas, mas nem a República se atreveu a eliminar a heráldica secular que representa a fundação de Portugal e a expansão ultramarina, os dois factos históricos estruturais da identidade portuguesa.
Portugal é, na sua génese, uma criação cristã, destacando-se a ação do influente São Bernardo de Claraval (Clairvaux), o cisterciense que teve papel decisivo no apoio europeu a Afonso Henriques na conquista de Lisboa e na de território que deu forma a Portugal. São factos que fazem parte da nossa identidade, e não há como ignorá-los e disfarçá-los com um pastiche.
E o tempo fez o seu trabalho. Os séculos esbateram e modificaram a essência dinástica, religiosa e expansionista da heráldica nacional. O escudo, os castelos e a esfera armilar transformaram-se ao longo dos séculos naquilo que Gombricht designa por diagrama ou mnemónica, resultando numa marca visual distintiva e diferenciadora, naquilo que no marketing se designa por assinatura gráfica do brand Portugal. A heráldica passou a significar Portugal Estado-nação europeu muito antigo.
O novo grafismo é um exemplo (caro) de “brand failure”, marca falhada. A decisão sensata será abandoná-lo de imediato.