À data em que escrevo a greve dos motoristas de matérias perigosas está ao rubro, com o combustível a faltar nos postos de abastecimento, o Governo a avançar para uma requisição civil e os cidadãos e empresas a temerem pela sua mobilidade.

Todo este drama provocado pela paralisação dos camionistas põe a nu a excessiva dependência do país em relação ao transporte rodoviário e, por consequência, aos combustíveis fósseis. Isto numa altura em que Portugal se comprometeu, perante a Comissão Europeia, com o Plano Nacional Energia e Clima 2030. Esta estratégia de transição energética estabeleceu a ambiciosa meta de 47% de incorporação de energia renovável no total da energia consumida em 2030.

A meu ver, a descarbonização da economia não é só um imperativo ambiental (e civilizacional) mas também uma grande oportunidade de desenvolvimento económico para o país. A mudança de paradigma energético permite, desde logo, que Portugal diminua as suas importações de petróleo, carvão e gás natural e que o sector produtivo não esteja tão condicionado pelas oscilações de preços destes recursos naturais.

Para além de mitigar a dependência energética nacional, o recurso a energias renováveis possibilita a redução dos custos associados à produção de eletricidade e, consequentemente, reforça a competitividade das nossas empresas. Em suma, as energias renováveis são um fator de crescimento, investimento, emprego e inovação.

Neste pressuposto, é bastante auspicioso o interesse que o recente leilão de energia solar em Portugal suscitou entre investidores nacionais e internacionais. Houve uma forte concorrência entre licitadores, tendo sido fixado um novo mínimo mundial no preço da energia solar (14,6 euros por MWh). O sucesso do leilão vai ter implicações profundas no mercado eléctrico português, tornando-o mais competitivo e favorável ao consumidor. Está previsto o aumento da potência solar do país e do número de produtores, o que irá pressionar para baixo o preço grossista da energia.

Portugal é um país com grande potencial solar. Temos mais horas de sol anuais do que os nossos parceiros europeus e o Algarve e o Alentejo estão entre os locais com maior radiação solar da Europa. Ainda assim, a capacidade instalada no fotovoltaico é das menores da UE e fica manifestamente aquém dos níveis de insolação do país. Por isso, há que continuar a atrair grandes investidores para o nosso mercado de energia solar, como foi feito neste leilão, e ao mesmo tempo tornar mais atrativa a produção descentralizada para autoconsumo ou para venda à rede.

Há condições para termos preços muito competitivos nas renováveis e desta forma aliviar cidadãos e empresas dos elevados custos da energia em Portugal. Importa, porém, tirar o devido partido não só dos recursos naturais mas também da massa crítica, do conhecimento, das infraestruturas e da tecnologia de que o país dispõe no sector energético.