Para além das eleições, a inflação e os juros vão continuar a marcar o ano de 2024. É importante perceber a relevância destes indicadores que influenciam a tomada de decisões no dia-a-dia.
Enquanto os governos ganham com a inflação, no que são transferências automáticas de impostos, por via dos impostos cobrados no aumento de preços, o mesmo não se pode dizer quanto às empresas ou aos trabalhadores e contribuintes.
Se, por absurdo, fosse atribuído um milhão de euros a cada português, a sociedade ficaria igual, pois os preços subiriam por forma a ajustar-se à oferta que, na maior parte das vezes, é rígida. A ilusão de mais dinheiro choca com a realidade do que é importante, o poder de compra.
Por outro lado, há que olhar para o incremento da oferta como forma de estabilizar ou reduzir preços e, desta forma, voltar a aumentar o poder de compra das famílias. Por exemplo, no caso da habitação, o ajuste de preços não é imediato, pois as casas demoram a ser construídas, sendo por isso natural que o ajustamento demore mais tempo.
Mas há muito mais a fazer para reduzir preços, como seja a redução de custos de contexto, nomeadamente, a desburocratização da economia.
Esta questão regressa agora nas eleições nacionais, mas por cada “simplex” anunciado acabam por ser criadas mais regras, obrigações que impedem as empresas e cidadãos de materializar ganhos de produtividade. Esta burocracia, transversal a toda a Europa, obriga a que a redução da inflação seja feita por via da diminuição do poder de compra e da recessão.
Nos antípodas estão os Estados Unidos, que voltam a surpreender, com a inflação a registar uma aceleração. Juntamente com um pacote de estímulos que incentiva o regresso das empresas americanas, bem como o empreendedorismo, a economia americana apresenta um vigor invejável, mesmo que suportada em endividamento.
Os mais recentes dados mostram uma nova aceleração mensal da inflação, nos EUA, para 0,3%, face aos 0,2% esperados, suportados pela subida da habitação em 6% e 2,6% na alimentação. Estes dados afastam a descida de juros para junho, o que poderá pressionar o BCE a adiar, também, a sua decisão. As promessas de diminuição de juros por parte de alguns governadores do BCE, e ministros, já duram há algum tempo, mas tendo em conta a redução lenta da inflação, poderá minar a credibilidade destes agentes.
O caminho da redução de inflação e dos juros irá ditar o futuro político de europeus e americanos, e, muito provavelmente, criar um mundo mais instável nas democracias.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.