Nesta “silly season” os temas do momento são as presidenciais americanas, o ressurgimento dos casos da pandemia nos maiores países europeus, a difícil recuperação económica, as turbulências políticas e sociais em algumas regiões europeias, o ressurgir do racismo como prelúdio do descontentamento. E, entre nós, as dificuldades das empresas em retomarem o nível de faturação pré-Covid 19, com muitas delas a revelarem dificuldade em se adaptar a um ‘novo normal’. Pelo meio estão os negócios que não param, sendo que o setor dos media anda muito atarefado.

Mas o que vamos tratar é de um tema estruturante para o nosso futuro. Já o abordámos várias vezes e ainda não temos soluções. Falamos de exportações e internacionalização. O leitmotiv foi um recente livro coordenado por Luís Ferreira Lopes, prefaciado pelo Presidente da República e intitulado “Esperança e Reinvenção”. Tem a colaboração de 19 autores/gestores que escrevem sobre a esperança para Portugal. E dos vários autores retirámos a inspiração para esta crónica do texto de António Rios de Amorim, o homem da Corticeira Amorim, que nos fala de internacionalização, depois de explicar que se começa pela exportação.

O futuro do país estará na capacidade de gerar, para já, metade do seu PIB com as exportações. Estava (o país) no bom caminho mas desviou-se. E o problema não foi apenas da pandemia. Os sinais da debilidade da maioria dos exportadores eram latentes. Apenas uma mão-cheia de grupos empresariais organizados conseguiu perceber o que é vender no exterior e começa por estar bem no mercado doméstico. O exterior não é a tábua de salvação nem o “eldorado” de quem não tem solução para o mercado interno. É a expansão natural de quem não pode crescer mais em termos domésticos e tem de alargar horizontes a nível de território.

Depois falta-nos modelo de negócio, conhecimento do mercado, ambição sem aderência à realidade e o pensamento do dinheiro fácil. A tudo isto soma-se, muitas vezes, a falta de transparência nos negócios, nas transações e na contabilidade. E como bem refere Rios de Amorim: “Exportar é (…) uma obrigação”. Mas adverte para um mundo que deveria ser cada vez mais pequeno mas que, em contraste, está a ficar um mundo mais condicionado. Salienta que “o livre movimento de pessoas, bens e capitais tal como o tínhamos conhecido abrandará”. E adianta que “o reforço da autossuficiência reverterá a globalização na qual o crescimento do comércio mundial se baseou. Um mundo mais fracionado será a perspetiva mais realista do futuro”.

Sobre a crise diz que o maior problema é a impossibilidade de antecipar a sua longevidade e, por isso, é preciso fazer o trabalho de casa. Exportar para os EUA e Médio Oriente é crítico pois são os nossos mercados naturais, e quando se pensa em internacionalização é necessário primeiro exportar. Isto porque exportar “é mais rápido e exige menos recursos”. E adverte ainda o gestor que é necessário “assegurar que o balanço da empresa-mãe permita acomodar alguns anos de insucesso até que os resultados apareçam”. Palavras sábias.

Nuno Fernandes Thomaz é o gestor que, no mesmo livro, antecipa que no futuro próximo o consumidor será “mais assético e cauteloso, mais estático e confinado, mais digital, racional e programático”. E diz que, “infelizmente”, o consumidor será “menos social, mais isolado e viverá mais angustiado”.