Nas horas seguintes à tomada de posse, Donald Trump assinou vários Decretos Executivos que confirmam as expectativas de que os EUA vão assumir posições radicalmente diferentes num conjunto de matérias que afectam os quadros em que as relações políticas e económicas internacionais se desenvolviam até agora.
Como era de esperar, Trump retirou os EUA do Acordo de Paris sobre o Clima. Já o tinha feito em 2016, mas a decisão veio com um conjunto de outras que materializam uma viragem completa em matéria de protecção ambiental – a abertura à exploração e produção de petróleo e gás nos terrenos públicos, no Alasca e no offshore, a eliminação de reservas de áreas offshore para a produção de energia eólica, o fim da priorização dos veículos eléctricos e a sujeição da participação americana em iniciativas tendentes a combater as alterações climáticas à defesa dos interesses nacionais, são medidas que ilustram bem a situação.
Resultado a esperar: sendo os EUA o maior poluidor do planeta, a sua retirada de esforços conjugados para o combate às alterações climáticas, que já vinham produzindo fracos resultados, será necessário deixar de falar em “prevenção” e passar a trabalhar na “remediação”.
Outra prioridade para Trump, entre muitas, é o comércio internacional. Nesse âmbito, deu instruções no sentido de estudar como vias a seguir para combater o desequilíbrio da balança comercial dos EUA o reforço do investimento na produção doméstica, a aplicação de tarifas, que penalizem as importações, e a criação de um “External Revenue Service” para cobrar tarifas e outras receitas relacionadas com o comércio externo. E determinou que o Acordo Tributário Mundial, criado no âmbito da OCDE, não será aplicado nos EUA, a não ser que a Lei expressamente o preveja, bem como a identificação de países cuja fiscalidade discrimine negativamente (na sua acepção do conceito) empresas americanas, com vista ao estudo de medidas sancionatórias.
Nas relações políticas internacionais é evidente o reforço de posições nacionalistas e isolacionistas, roçando o expansionismo e pondo em causa as fronteiras estabelecidas e o Direito Internacional. Exemplos: a intenção de “recuperar” o Canal do Panamá (que “nunca devia ter sido dado”), a redenominação do Golfo do México para “Golfo da América”, e a recuperação do nome do Monte McKinley, no Alasca, a montanha mais alta dos EUA. Curiosamente, foi durante a presidência McKinley, que Trump definiu como “grande homem de negócios”, que os EUA se envolveram na Guerra Hispano-Americana, em que adquiriram a posse das Filipinas, de Guam, Cuba e Porto Rico.
Mais. os EUA pretendem agora ir “desfraldar a bandeira das estrelas e faixas em Marte”. Acresce a proclamação de Trump como “pacificador”, com uma frase cheia, dirigida, na minha opinião, aos seus aliados: “mediremos o nosso sucesso não só pelas batalhas que vencermos, mas também pelas guerras que terminemos e, talvez mais importante, pelas guerras em que não nos envolvamos”. O que em linguagem corrente significa que se a Europa se vir envolvida em guerra, poderá contar com a ajuda americana se isso for do interesse dos EUA.
A presidência de Trump não representa um mundo novo. É o regresso dos EUA ao isolacionismo, alheio a tudo o que se passa fora das suas fronteiras que não lhe traga benefícios imediatos e que caracterizou a sua política internacional até à II Guerra Mundial. A Europa tem de se preparar para que esse cenário se torne numa constante.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.