As eleições europeias souberam a um balde de água fria. O resultado óbvio foi a subida da extrema-direita antieuropeísta um pouco por todo o lado, merecendo o destaque (apreensivo) da comunicação social além-fronteiras. As decisões de dissolver parlamentos, o seu corolário.

Assustadores foram, sem dúvida, os desfechos de França e Alemanha – com relevância na Alemanha de Leste – impondo uma reflexão sobre o papel e o devir do velho eixo franco-alemão. Mas todas as nações fundadoras do projeto europeu estarão contagiadas pela virose da extrema-direita.

Por cá, os resultados eleitorais nacionais repetiram a proeza de estar em contraciclo em relação à Europa – em que a descida do Chega foi o descanso das costas, enquanto se aguarda a volta do pau.

O que nos trouxe, europeus, até aqui? Porque é que aqueles que souberam dialogar entre si, ao ponto de criar uma moeda comum e afinar o desenho de políticas transnacionais, se veem hoje incapazes de entusiasmar as suas populações em torno do projeto europeu?

As suas conquistas são presentemente os seus atavismos.

Do Banco Central Europeu (BCE), na voz da sua presidente, surge a preocupação com a transição verde e o sinal de que requererá um “investimento substancial”, como que a justificar uma política industrial comum. Mas que condições de financiamento se poderão conceber para promover esta política?

O mesmo BCE revela que o crescimento do emprego foi mais forte do que o do PIB no período pós-pandemia, reconhecendo o decréscimo da produtividade e o ajustamento do mercado de trabalho através dos salários reais. Porque se contêm salários enquanto se permite o crescimento dos lucros das grandes empresas?

Entre as grandes economias, a Alemanha conjuga hoje um dos menores rácios de dívida pública sobre o PIB com um dos piores desempenhos. E, como adverte Isabella Weber, ainda assim o investimento público permanece baixo, impedido por regras orçamentais e fiscais internas que conseguem ser mais rígidas do que as do Pacto Europeu de Estabilidade.

Como pode a Europa ter dinamismo económico sem se libertar dos seus espartilhos ideológicos? A solução, uma vez mais, foi interpelar Mario Draghi, desta feita para escrever um relatório sobre competitividade europeia.

Draghi fala em escala, coordenação e cooperação e pede à Europa que haja como uma União, combatendo a sua fragmentação política e definindo objetivos comuns. Se conseguir ser levado a sério numa Europa tão enquistada, corre o risco de um dia ganhar o epíteto de O Salvador.