Neste início de 2025, retomamos a crise europeia, agora na sequência da recente intervenção de Mario Draghi, no jantar do III Simpósio de Paris do Centro de Investigação de Política Económica – CEPR, em 15 de dezembro último.
Perante uma plateia de académicos, investigadores e outros especialistas, o ex-presidente do BCE explicita e sintetiza de uma forma muito clara a sua visão das razões que conduziram à estagnação económica da Europa e à perda de competitividade face à China e aos Estados Unidos.
Primeiro, os governos fizeram muito pouco para completar o mercado interno, enquanto enfraqueceram as próprias regras do seu funcionamento. Segundo, não promoveram convenientemente a integração dos mercados de capitais. Terceiro, deram prioridade a um modelo económico orientado para a procura externa e para a exportação de capitais. Quarto, este modelo económico baseou-se em baixos salários, como forma de assegurar a competitividade externa, o que sacrificou o já fraco ciclo de rendimento-consumo.
No fundo, o que Draghi está a dizer, é que a Europa foi incapaz de se ajustar às grandes transformações da economia global na viragem dos anos 80 para os anos 90, com a implosão do bloco soviético e a emergência da China na economia global.
Os sucessivos responsáveis europeus deram prioridade ao alargamento aos países do centro e do Leste da Europa, sacrificando a dinâmica de aprofundamento, acentuando as assimetrias internas e provocando uma reorientação do sistema de relações e de hierarquia de interesses, onde a Alemanha se tornou a potência hegemónica. Ao fazerem esta opção, os responsáveis europeus deixaram arrastar-se para um modelo económico prisioneiro dos retornos de curto prazo, descurando a produção de mecanismos de sustentação interna da dinâmica de inovação e crescimento a longo prazo.
A agravar tudo isto, a aposta na competividade baseada na contenção salarial bloqueou o mecanismo de progressão de rendimentos e de formação de classes médias, característico do período posterior à Segunda Guerra Mundial, estendendo a crise do modelo económico à esfera política, potenciando a emergência do populismo e subvertendo radicalmente o sistema de equilíbrios estabelecido.
Olhando para o futuro, se a Europa quiser recuperar o dinamismo económico e projetar a sua influência na Economia Global, terá de construir um novo modelo económico. Um modelo que aposte no investimento, público e privado, e na progressão de rendimentos. E que recupere a dinâmica do ciclo rendimento-consumo, sem descurar a coerência e sustentabilidade do sistema produtivo interno e a redução de dependências, entretanto, evidenciadas.
Um novo modelo económico que deverá ter na inovação tecnológica e organizacional o seu desiderato fundamental, exigindo uma aposta na investigação e na formação qualificada, ao mesmo tempo que a introdução de uma orientação estratégica de desenvolvimento a médio e longo prazo.
Um novo modelo, ainda, que, no contexto da sua articulação com a economia global, deverá cortar com a visão primária de competitividade estrita que conduziu à crise atual e adotar uma nova visão de competividade, sistémica e global, alicerçada no reforço da cooperação e do papel das instituições económicas internacionais.
Algo que a Europa está em condições de liderar se aprofundar o seu próprio processo de integração interna, com novas regras de relacionamento e resistindo à tentação de constituir novos eixos de interesses e de produção de hegemonias.
A terminar, os meus votos de um Bom Novo Modelo Económico!