A proposta de Orçamento do Estado para 2022, entregue esta segunda-feira no Parlamento, tem um grande calcanhar de Aquiles. À semelhança dos Orçamentos de anos anteriores, é um documento que aposta na redistribuição de rendimentos, sobretudo pelas clientelas eleitorais do PS e de outras forças que suportam o Executivo liderado por António Costa. Algumas medidas, como o desdobramento de escalões, terão impacto em muitas famílias, mas mesmo no que diz respeito a ser “amigo” este Orçamento assenta mais na propaganda do que na realidade, como se vê pelo facto de o chamado IRS jovem ter impacto neutro para a esmagadora maioria dos portugueses com menos de 35 anos.

Mas onde a propaganda é mais evidente é na medida que foi anunciada para apoiar as empresas. Como diz o presidente da AEP nesta edição especial do Jornal Económico, há muito pouco de palpável no apoio fiscal ao investimento que foi anunciado com pompa e circunstância pelo Governo.

Tudo indica, por isso, que seja mais um Orçamento que tem como objetivo satisfazer a base sociológica de apoio do atual Executivo, passando olimpicamente ao lado da necessidade de medidas de apoio às empresas, à poupança e ao investimento, ao mesmo tempo que se multiplicam as taxas e taxinhas, que na prática representam um agravamento da carga fiscal para muitas famílias e empresas. As verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) permitem esconder a realidade e adiar o inadiável por mais algum tempo, ou assim pensa quem nos governa. O que é lamentável, porque o país precisa de um Orçamento que não seja “espectador” – para não dizer “vampiro” em termos de criação de riqueza e de progresso económico.