1. Nos últimos dias fomos surpreendidos por uma crise no seio do Governo que noutros tempos e com outros executivos, quiçá, de outra cor política, teria dado pano para mangas e teria feito correr rios de tinta.
Estou a falar da crise em volta da redução do IRC pretendida por António Costa Silva, ministro da Economia e do Mar (que afirmou ter razão antes de tempo), que foi prontamente desmentido num tom severo e sem contemplações a dois tempos. Primeiro por Mendonça Mendes, secretário de Estado e irmão da toda poderosa Ana Catarina Mendes, uma das figuras do aparelho do PS, e depois pelo próprio Fernando Medina, ministro das Finanças.
Curiosamente Costa Silva deve ser dos três o único que já sentiu na pele o que é ter de pagar IRC no meio empresarial pois durante anos presidiu aos destinos da Partex, entre outra entidades, e quer Medina quer Mendonça Mendes são políticos em funções públicas há vários anos. O ministro sabe pela sua experiência anterior mas também pelas reivindicações que lhe apresentam enquanto titular da Economia o que representa a carga fiscal para as empresas em Portugal e quis levar a sua avante, mas parece que isso não vai acontecer e o ministro teve que recuar e nós vamos continuar com um IRC dos mais elevados da Europa. O primeiro-ministro prometeu mitigar o IRC em face de determinados parâmetros. Vamos ver o resultado. Sucede que o país não pode estar nas mãos de políticos e de governos que dizem uma coisa num dia e uma coisa no outro, e o responsável por esta crise tem um nome e chama-se António Costa.
2. O Orçamento do Estado para 2023 continua a ser discutido num ambiente de incerteza quanto ao crescimento da Europa e quanto ao nível de inflação. O Banco Central Europeu, através da sua presidente, assegura que a política monetária vai combater a erosão do dinheiro, o que significa que serão anunciadas mais subidas de juros. E vários institutos e analistas acreditam num crescimento zero ou mesmo num crescimento negativo. Já aqui o dissemos: temos a tempestade perfeita e não temos políticas para a degradação do ambiente económico. Acabou o dinheiro barato, a energia barata, os transportes internacionais baratos e a mão-de-obra asiática barata. Vamos voltar aos cortes e a maiores sacrifícios de famílias, empresas e Estado. Lembremo-nos ainda de que quando falamos em grandes investimentos públicos a comparticipação do PRR e de outros fundos europeus implica investimento do lado público nacional e isso significa mais dinheiro, mais impostos e mais financiamento caro.
3. A ingratidão é uma coisa tramada. Isto vem a propósito das críticas sobre a prestação de Cristiano Ronaldo na seleção nacional de futebol e da sua ambição de continuar o desporto mesmo depois de uma idade em que normalmente os futebolistas já estão reformados. Não sendo intocável, a sua personalidade dá-lhe o estatuto de motivador de uma equipa, o que significa que vai continuar a ter lugar em qualquer das grandes competições onde Portugal esteja e durante o tempo que quiser. Relembremos que Cristiano, tal como em outros tempos Figo ou Futre, levaram o nome de Portugal a todos os cantos da terra. Mesmos os mais recônditos. Isto foi algo que nenhum político, investigador ou cientista conseguiu fazer. Devemos-lhe o maior do respeito. n