Quando medimos a economia de um país falamos geralmente em Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, a riqueza produzida em determinado período de tempo. Mas há outras formas de medir a riqueza de um país, nomeadamente através da riqueza acumulada, em stock.

O Credit Suisse publica anualmente um relatório que contém dados sobre a riqueza líquida (diferença entre aquilo que se tem e o que se deve) de cada país e, ao contrário do que muitos poderiam esperar, Portugal não está mal colocado no ranking: somos o 33º país, a nível mundial, com maior riqueza nacional líquida em termos absolutos, com cerca de 1.200 biliões de dólares, à frente de países como a Noruega, a Finlândia, a Grécia, os Emirados ou a Irlanda. Em termos relativos estamos na 30ª posição, com uma média de 142 mil dólares por habitante adulto.

A título de comparação, Portugal surge na 49ª posição do ranking do FMI em termos  de PIB nominal previsto para 2021. O que explica esta diferença entre as posições nos dois rankings? A falta de competitividade e a quase estagnação da nossa economia nas últimas duas décadas. E o facto de os números da riqueza acumulada esconderem a falta de dinamismo da economia é uma das razões pela qual o PIB é mais utilizado. No entanto, os dois indicadores estão ligados e uma economia menos dinâmica levará a que acumulemos menos riqueza ao longo do tempo. É o que tem acontecido com Portugal: no ano 2000, pouco depois da adesão ao euro, estávamos na 28ª posição do ranking elaborado pelo Credit Suisse. Hoje estamos cinco lugares abaixo.

Os números da riqueza acumulada têm também o efeito de esconder a desigualdade, embora menos do que se poderia pensar. No caso português, temos um coeficiente GINI (que mede a desigualdade) de 70,5%, sendo que zero representaria igualdade absoluta e 100% a desigualdade máxima. A título de exemplo, a Espanha tem um coeficiente GINI de 69%, enquanto a Alemanha está nos 78%, pelo que Portugal está em linha com os pares.

Mas como é composta esta nossa riqueza acumulada? Na sua maior parte, por imobiliário. Os portugueses compram casas para viver e depois deixar aos filhos, ou então para arrendar e obter um rendimento extra. Por vezes fazem-no com crédito (que é na maioria das vezes pago com o rendimento do trabalho, permitindo juntar património ao longo da vida), noutras com as poupanças, mas não deixa de ser o investimento mais democrático. Até uma pessoa com a quarta classe pode tornar-se uma investidora bem sucedida.

A valorização do imobiliário ao longo dos últimos anos fez crescer a riqueza líquida do país e a maioria das famílias portuguesas que têm casa própria são hoje mais ricas do que há 20 ou 30 anos. Tendo em conta que 74 por cento dos portugueses vivem em casas próprias (acima da média da UE, que anda à volta dos 66%), é fácil compreender a importância disto. Trata-se de um património que será deixado às gerações futuras e que poderá ser usado para lançar novos negócios, para estudar e para muitas outras coisas. Em suma, para que as pessoas vivam melhor e sejam mais livres.

Nas últimas décadas, passámos a ser uma nação de proprietários e isso só pode ser visto como negativo por quem acha que ser dono da própria casa deve ser um direito reservado a meia dúzia de privilegiados. Ou por quem preferia viver num país em que todos fôssemos servos do Estado.

Por isso, quando os políticos fazem leis que castigam quem investe em imobiliário estão a ir aos bolsos de milhões de famílias, para além de fazerem com que haja menos casas para arrendar, levando à subida das rendas e a menos investimento em reabilitação.