1. Esta semana assistimos à primeira volta pelo país de Luís Montenegro como presidente do PSD numa suposta estratégia para conhecer problemas do “país real”, com início no distrito de Viseu.

Fica bem ao novo líder do PSD esta aproximação às pessoas e aos problemas reais, sobretudo porque não tem palco no parlamento, já que não é deputado. Mas a verdade é que os problemas do país estão por todo o lado e resolvem-se em Lisboa no confronto direto com António Costa. Foi isso que fez, por exemplo, André Ventura, ao confrontar o primeiro-ministro e o ministro da Administração Interna com o aumento da criminalidade violenta em várias zonas do país, quase sempre ligada a determinada etnia.

Luís Montenegro tem que ter uma postura mais institucional, mais política e de líder da oposição e isso faz-se em Lisboa, Bruxelas, no Alto Minho ou no Algarve. Tem de estar em todo o lado e não apenas em contacto com os seus autarcas ou com os líderes partidários locais. Luís Montenegro tem de abandonar a sua ruralidade e ser cada vez mais urbano e combativo face a António Costa.

O primeiro-ministro, por sua vez, apostou num pacote de ‘quase’ soluções para os portugueses no combate ao aumento de preços generalizado, em particular na energia, mas que resultam numa mão-cheia de quase nada. Aqui ao lado, em Espanha, num Governo também ele socialista, Pedro Sánchez apresenta várias medidas de choque e mantém as que já estavam em vigor, como a comparticipação de 20 a 30 cêntimos por litro no combustível.

Costa continua a governar para nichos, caso dos reformados, e demorou mais de dez dias a substituir a ministra da Saúde por um “apparatchik”, Manuel Pizarro, sendo que assiste impávido e sereno ao ruir do SNS, do sistema de justiça e do sistema de segurança social, entre muitos outros.

O país precisa de uma terapia de choque e um destes dois homens, António Costa ou Luís Montenegro, tem de se apresentar a jogo ou irão queixar-se de que o país cai nas mãos da direita mais radicalizada, como acontece na Hungria, Suécia e, em breve, Itália.

2. A habitação, a par da saúde, é um dos maiores problemas nacionais. Significa mais ou menos bem-estar de toda a população. E se o aumento controlado das rendas deixou alguns inquilinos satisfeitos, também é verdade que deixou o mercado do arrendamento privado ainda mais instável. Qualquer senhorio vai passar a querer incorporar o risco acrescido de o mercado não funcionar. Vão ficar os senhorios públicos que tendem a aumentar o património e desta forma a habitação vai-se estatizando.

Do lado de quem comprou, os próximos meses serão desafiantes tendo em conta que a subida dos juros irá acelerar. Até agora, aquilo que foi prometido é levar parte dos juros à dedução no IRS para os contratos feitos nos últimos dez anos, já que os contratos anteriores eram passíveis dessa “bondade fiscal”. Mas o problema irá manter-se, porque antes de se deduzir parte dos juros em sede de IRS é preciso liquidez para os pagar, e aí as famílias com menores recursos e com um nível de esforço da prestação sobre os rendimentos irão sofrer.

Não há solução milagreira que não seja pagar. A expectativa é que a inflação desacelere e a necessidade de combater a erosão dos preços com a subida dos juros acabe por ser desnecessária.