Estas últimas semanas têm trazido ao nosso país uma realidade política digna da imaturidade democrática do período do PREC – Processo Revolucionário em Curso, período entre a revolução do 25 de Abril de 1974 e a aprovação da Constituição Portuguesa, em 1976. O ambiente político e as falhas de liderança existentes têm criado um ambiente de país frustrado e angustiado, por claro sentimento de perceção da quantidade de oportunidades perdidas que temos vivido.
A razão que nos trouxe até este estado de alma angustiada tem por base: as falhas de liderança e de visão recorrentes dos líderes políticos, a inexperiência clara da vida real, económica e social dos governantes, a constante gritaria política, a incapacidade de assumir uma decisão desagradável mas fundamental, aos quais se juntam a agressão fácil com invasão do espaço privado, a ânsia e necessidade crescente de ter um “sobe e desce” de emoções diárias, a criação de “mini-shots” de adrenalina com tweets de notícias “com sangue”, a ânsia de ter um furo jornalístico que seja o centro de atenções – mesmo que para isso se tenha de transformar factos normais em factos imorais, como se fôssemos um país de cultura puritana e perfeita.
Ou seja, uma clara sinfonia do quanto pior, melhor!
Numa altura em que se comemoram os 50 anos de democracia, os extremos da esquerda e da direita não democrática, (ainda) minoritários no país, pela força do ruído e do soundbite mais aceso e emocional, têm-se aproveitado (e bem!) das fragilidades das maiorias mais amenas, adeptas da manutenção do statu quo e mais difíceis de mobilizar para ações de demonstração de insatisfação, pese embora as dificuldades crescentes de qualidade de vida.
Os debates emocionais, de apresentação de casos extremos, as manifestações de criação de “um mundo como um paraíso” ou as dinâmicas de explodir tintas na roupa de governantes, são sempre ferramentas extraordinárias de marketing que, apesar deem muitos casos não passarem de “balões de ar”, com pouca de consistência ou aplicabilidade real, acabam por convencer muito facilmente os mais incautos, distraídos ou menos experientes da realidade, uma vez que apresentam recorrentemente contextos irrealistas, com impactos mais negativos que positivos, na sua essência.
É, por isso, que é altamente frustrante assistir a uma queda de um Governo, não pela incompetência de gestão ou de resultados negativos das suas políticas, mas por investigações judiciais que aplicam princípios de mediatização dos factos, ao invés de garantirem a sobriedade que a ação merece.
Porque tenho esta opinião? Pela simples razão que, desta forma, ficará sempre uma sensação de trabalho inacabado e de que existiria uma visão positiva futura para o país, que não foi possível realizar porque não deixaram. Ou seja, haverá uma elevada probabilidade de o próximo governo, seja ele de esquerda ou de direita, de não aprender, aplicando exatamente os mesmos modelos de gestão política, ou seja, de não criação de uma estratégia clara do que pode ser o nosso país num mercado económico e geopolítico daqui a 10 ou 20 anos.
A forma como caiu o Governo não criou o sentido de urgência de mudança, de ambicionar ir mais além do que o “meu bairro”. Continuaremos a pensar pequenino!
Gerir um país deveria assemelhar-se mais a gerir uma empresa. Ambos têm pessoas, acionistas, clientes, produtos, serviços, processos e tecnologia. Infelizmente, visionar e gerir para que gerações futuras estejam preparadas para elevar o país a patamares superiores de mercado, dentro de dez ou 20 anos, não dá votos, nem eterniza o poder. Iremos manter a política do dia a dia, sem grandes ambições que nos trouxeram a encolher os ombros e considerar normal a degradação dos serviços públicos essenciais (educação, saúde, justiça e segurança).
Com efeito, repito, a forma como caiu o Governo não nos trará o verdadeiro sentido de urgência necessário para mudar o país. E, por isso, estimo que continuaremos a sorrir e a acenar para uma ficção democrática de um país confuso e imaturo. Gostaria de estar errado…