Portugal é um país que não gosta que alguém ganhe dinheiro. Basta uma determinada atividade começar a ser rentável para que rapidamente apareçam políticos, autarcas, ativistas e mil e uma entidades interessadas em acabar com a festa ou em ficar com uma fatia do bolo. A intenção de acabar com a taxa liberatória de IRS de 28% nos rendimentos prediais é mais uma prova desta mentalidade que nos puxa a todos para baixo.

O imobiliário é talvez o ativo mais democrático e seguro que as famílias portuguesas têm à disposição para investir as suas poupanças com um retorno razoável. Não é preciso compreender termos complexos para comprar uma casa com potencial de valorização e boa rentabilidade. Até um cidadão pouco letrado consegue adquirir os conhecimentos necessários para investir em imobiliário e tirar disso proveito, sem correr grandes riscos. Por vezes perde-se dinheiro, como em qualquer outro negócio, mas por alguma razão não existem “lesados” do imobiliário.

Nesse sentido, a taxa liberatória constitui um incentivo para que os cidadãos invistam as suas poupanças na compra de imóveis, dinamizando a reabilitação urbana e o mercado de arrendamento.

Poder-se-á argumentar: a taxa liberatória de 28% é injusta, porque os impostos devem ser progressivos e quem ganha mais deve pagar mais. Além disso, o que estará em cima da mesa é englobar apenas os rendimentos de contratos de arrendamento inferiores a dois anos. São argumentos que fazem algum sentido. Todavia, não deixa de ser mais uma medida que castiga quem poupa e investe, isto é, a classe média (até porque os investidores profissionais têm à disposição soluções mais vantajosas do ponto vista fiscal). Que os políticos tomem estas medidas sem que, dessa forma, corram o risco de perder votos, só demonstra o país que somos. Um país sem classe média forte.