A pandemia veio agudizar alguns problemas estruturais que Portugal enfrenta e o Governo socialista tem manifestado uma dificuldade crescente e crónica em olhar a realidade de frente.

O país não tem recursos ilimitados, o que implica, necessariamente, uma gestão prudente e extrema parcimónia na despesa pública, em tempos “normais”. Ainda assim, Portugal continua a destacar-se como um dos países europeus que menos gasta no combate à crise económica provocada pela pandemia. Ou seja, quando o país não devia gastar, gasta mal e quando devia gastar, não gasta o suficiente.

O caso da TAP tem-se arrastado e a incapacidade do ministro Pedro Nuno Santos em “controlar” a situação tem sido evidente. A injecção de 4 mil milhões na TAP carece de uma profunda explicação aos portugueses. Somando a TAP ao BES, poderemos chegar aos 14 mil milhões. Convém recordar que António Costa é primeiro-ministro desde 2015, pelo que a desculpa habitual de remeter a culpa para o anterior governo deixou de ter qualquer adesão à realidade.

O ministro Pedro Nuno Santos tem sido coerente e fiel à velha máxima do Partido Socialista, de ignorar a realidade e nada resolver. Como sabemos, despejar dinheiro sem estratégia não resolve o problema. Apenas o adia.

Os sinais de alarme na sociedade são evidentes. Todos os dias as evidências são gritantes. O Banco Alimentar contra a Fome tem batido recordes na prestação de ajuda alimentar de emergência. Um estudo recente, da Associação Académica da Universidade de  Lisboa, indica que 47% dos estudantes sentem dificuldades financeiras, quase 60% pensam abandonar o ensino superior e que 37% já “saltaram” refeições. Embora o estudo seja sobre os alunos da Universidade de Lisboa, a realidade não é diferente no resto do país.

Enquanto as empresas e famílias sofrem e desesperam, o PS aprova no Parlamento a Lei da Eutanásia. De facto, não havia nada mais urgente e oportuno do que legalizar a antecipação forçada da morte dos mais frágeis.

Os sinais de desnorte não são exclusivos da pasta das Infraestruturas e Habitação. No caso da Administração Interna, veio o respectivo ministro anunciar a reformulação do SEF com a divisão e subsequente partilha de competências com outras forças policiais.

O caso do cidadão ucraniano assassinado no aeroporto de Lisboa, que a todos chocou, é uma situação que nos envergonha. Mas colocar em causa o SEF, por um lamentável episódio que não espelha a realidade diária desta entidade, é desbaratar um capital de conhecimento e profissionalismo que jamais poderá ser permitido. Existem erros humanos, por vezes imperdoáveis, e podem ocorrer crimes em todos os sectores de actividade. A pergunta que se deixa ao ministro é se amanhã, por infortúnio, agentes da PJ espancarem até à morte um qualquer cidadão, a PJ também será desmantelada?

Há um país real, com pessoas reais, que ainda não receberam os apoios prometidos, seja pela burocracia excessiva, seja pelos atrasos sucessivos do Estado em honrar os seus compromissos. Antes das empresas poderem voltar a laborar, em condições normais, vão ser confrontadas com o fim das moratórias. O mesmo em relação às pessoas singulares que, não estando a trabalhar, não poderão honrar os seus compromissos com a banca. Há que planear a retoma económica e conjugar cuidadosamente o fim das moratórias para evitar adicionar à já difícil situação uma outra crise de incumprimento bancário.

Portugal é hoje um país sem rumo. O país rosa que nos é apresentado pelo Governo não existe. Os empresários desesperam pelas medidas de apoio, a dívida pública aumenta e os cidadãos são confrontados diariamente com um Estado que não funciona e com o qual não podem contar.

Ignorar a realidade tem sido o padrão a que o Governo socialista nos tem habituado. Até quando o permitiremos?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.