Dizia-se que, em Portugal, quem não fosse arguido não existia, não contava. É um exagero, claro, uma caricatura, mas se estivermos a falar de investigações ou de processos abertos na justiça, em diferentes níveis, estaremos mais próximos da realidade, porque estes se multiplicam. O Ministério Público é chamado para tudo.
A justiça tem-se portado como um agente político pelas decisões que toma e pela forma como age. O último governo de António Costa caiu por causa disso, pelo menos, oficialmente. A fantasia de que a justiça funciona fora da sociedade é isso mesmo, uma fantasia.
No filme “Filadélfia”, de 1993, de Jonathan Demme, que valeu a Tom Hanks o Óscar de melhor ator, numa cena passada no tribunal, o juiz Garnett, um papel desempenhado por Charles Napier, diz ao advogado Joe Miller, interpretado por Denzel Washington, que a justiça é uma realidade à parte.
“Neste tribunal, Sr. Miller, a justiça é cega para questões de raça, credo, cor, religião e orientação sexual”, diz Garnett. “Com todo o respeito, meritíssimo, nós não vivemos neste tribunal, pois não?”, responde Miller. Não vivemos, claro.
A pretensa ingenuidade dos agentes da justiça permite que esta seja usada, e tem-se prestado isso, a ser uma ferramenta de combate político, nomeadamente através do expediente da denúncia anónima, bastamente. É o que acontece agora, sem dúvida, com os casos de Luís Montenegro, também de Pedro Nuno Santos.
Todos sabemos que se escavarmos suficientemente a vida de alguém se encontrará, pelo menos, a dúvida, o que tem sido suficiente. É para aí que nos leva este taticismo político. E o vencedor é o populismo.