É lugar-comum ouvir dizer que os portugueses são um povo fantástico, capaz de acolher bem quem quer que seja, visitantes incluídos, e de integrar-se com uma facilidade extrema em qualquer país para onde nos deslocamos.

Esta forma de estar – humilde e generosa – traduz o universalismo de que sempre demos mostras e que se plasmou no espírito aventureiro e destemido com que enfrentámos o desconhecido “dando mundos ao mundo”.

Um povo que se integra, mas que também se miscigena. Que teve presença desde cedo e ao longo de séculos em vários continentes e que não dizimou povos. Que atravessou tempos em que as tendências eram diferentes e os conceitos bem distantes de agora e que nessa dimensão, à luz dos conceitos, atuais foi bárbaro, esclavagista e abusador.

País e povo concretizaram uma complexa e polémica descolonização, pela plena integração dos que vieram em gerações diferentes. Portugal faz conviver gentes e sociedades distintas em harmonia. O país que honra a sua história e nela só pode ter orgulho por aquilo que representa de desenvolvimento, inovação e mais-valia, quando estes conceitos não estavam na moda.

Claro que um país, este país, tem zonas em que se criaram guetos. Claro que um país, por melhor que seja, nunca é perfeito. E por isso é possível encontrar situações criticáveis, questionáveis e que merecem censura pública e intervenção judicial. Mas tal só acontece porque temos legislação avançada. Liberdade de expressão e imprensa livre e atenta. Gente preocupada e interveniente.

Importa não esquecer que também no domínio dos direitos humanos demos lições ao mundo ao ser o primeiro país a acabar com a pena de morte há século e meio. As nossas autoridades ou instituições devem, pois, acompanhar o nosso desenvolvimento e os nossos dirigentes devem promover a manutenção da nossa estratégia de integração. Denunciar o que corre mal, agir em conformidade, mas não tomar a nuvem por Juno, e manter o orgulho na tolerância.

Inadmissível é segregar cidadãos por cor, etnia, ou credo. Intolerável é não ouvir críticas e deixar de agir. Mas também é intolerável aceitar que se passe a imagem de um país retrógrado, particularmente quando tal provém de instituições onde participamos – como recentemente terá constado de um relatório do Conselho da Europa – quando tal não ilustra o país nem o povo que somos.

Em tempos bem recentes ouvi um dirigente político de um partido de esquerda afirmar que os painéis no Salão Nobre do Palácio de São Bento, que representam a história de Portugal num momento concreto, deviam ser pintados por cima de branco, porque glorificavam a escravatura. Mas a história não se pinta, nem a nossa nos envergonha.

Portugal é um país democrático cujas leis não são mera fachada. E como Estado de Direito prossegue a aplicação das leis a todos os que a violam. E isto é mais um motivo de realce e não de menorização do povo e do país.