Havia pensado escrever este artigo com algumas previsões para 2019. É um exercício comum que, caso erremos redondamente, ninguém se lembra daqui a 350 dias mas, caso acertemos, nos permite ser aquele tipo adorado por todos que não se cansa de dizer: “Vêem, eu bem vos disse!”.
Um dos acontecimentos que vaticinava prendia-se com a prestação do PSD, a principal referência política da direita nacional, e não abonava muito a favor do partido. Vindo de um resultado historicamente gravoso (que contribuiu directamente para a demissão de Passos Coelho) e enfrentando, à esquerda, uma solução governativa com aprovação popular (ainda que já não vivendo o estado de graça do início de 2017 e com a popularidade de António Costa a descer nos últimos meses) e, à direita, um CDS solidificado, os laranjas tinham já uma complicada tarefa em mãos.
Mas o PSD insiste em tentar tornar o seu caso num de ainda mais improvável sucesso. Rui Rio tem tido uma liderança, no mínimo, atribulada, quer por sucessivos “tiros nos pés” (a votação de Fernando Negrão, a escolha de Elina Fraga ou os “aspectos a mais” no currículo de Barreiras Duarte), quer por uma divisão interna pouco contida, exacerbada ultimamente por declarações públicas e quase bélicas que deixam a nu o confronto de facções que se vive no partido.
A mais recente veio de Luís Montenegro que, depois de no dia da eleição de Rio para Presidente ter deixado a dica que seria uma pedra no sapato do líder, veio agora desafiar o mesmo a convocar eleições directas a dez meses das legislativas, para deleite dos passistas. Estes, que se alimentam de um ódio visceral ao PS aliado a uma sensação de expropriação do poder em 2015, parecem agora justificar a atitude do ex-líder de bancada com uma comparação às primárias que elegeram Costa em detrimento de António José Seguro, ignorando uma diferença fulcral: Seguro havia já testado o processo eleitoral, nas europeias e autárquicas.
Desengane-se quem vê neste conflito uma situação esporádica: como explica várias vezes Nuno Garoupa, esta polarização no PSD é estrutural e resulta de duas facções claramente distintas nos alicerces do partido.
E, examinando o currículo político de Montenegro (o profissional é melhor não analisar, pois parece-me que não contribuirá muito para eleger o antigo líder de bancada para qualquer cargo público), vemos sinais dessa mesma disputa no elevado número de presidentes (sete) e líderes de bancada (nove até Montenegro, mais Hugo Soares e Negrão posteriormente) a quem o agora candidato já teve de responder desde 2002.
Ora, começa mal o aspirante a dirigente social-democrata, que havia garantido não se candidatar a tal cargo sem deixar Rio ir a eleições (depois de também se ter afirmado pouco adepto de eleições primárias).
Além disso, conta já com algumas polémicas relacionadas com as viagens pagas a jogos do Euro’16 ou os contratos pouco claros do Governo com empresas das quais detinha participação, que o deixariam exposto caso chegasse a líder do partido. Tal cenário não parece provável, já que Rio deverá sobreviver à moção de confiança, mas cria ainda mais mossa num organismo já espancado, quase partido.
E, como economista que sou, vou já mudando as minhas previsões para 2019, apesar de ainda só terem passado 15 dias deste ano: em vez de prever que o PSD nem aos 30% chega, aposto num pior resultado de sempre nas legislativas. O recorde foi estabelecido em 1976, com 24,35%. Entretanto, vou fazer umas pipocas, sentar-me na poltrona e ler umas propostas legislativas destes nossos amigos sociais-democratas. É que ainda falta até Outubro e eu gosto de humor na leitura.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.