Nestes dias em que a estratégia britânica relativamente ao Brexit parece ser pouco estruturada (acredito que exista, pelo menos) não deixo de pensar na confusão de espelhos em que as negociações se transformaram, mais do lado do Reino Unido (RU), é certo.

Parece que as recentes intenções de Theresa May vão no sentido de tentar suavizar a perspectiva da União Europeia (UE) em relação ao RU. Se tal ajudará ou não as negociações não se sabe ainda, mas a estratégia, por enquanto, é a da civilidade e sem grandes pressas, mesmo com os avisos de Michel Barnier (o negociador encarregado do processo) de que o tempo passa mais rapidamente do que esperamos.

Todavia, e porque “não há bela sem senão”, se por alguma razão chegarmos ao dia 30 de Março de 2019 e não houver nenhum acordo formal relativamente ao Brexit, o RU terá bastante com que se preocupar: pior do que um mau acordo, é não existir acordo algum.

Mas há que pensar no futuro, e hoje, mais do que há um ano e uns meses, podemos todos ter a frieza de reflectir – independentemente da possa posição em relação ao assunto – e considerar que está mesmo muito em jogo. Tanto que, às vezes, da ilha no Atlântico provêm sinais confusos de retrocesso no processo.

Talvez seja só um wishful thinking da minha parte, mas, a dar-se o Brexit, muitas coisas mudarão. Por exemplo, a burocracia que se criará com a nova situação é, no mínimo, uma imagem de pesadelo, isto referindo-me à burocracia em geral, basta imaginarmos as formalidades portuárias e alfandegárias com todos os controlos apertados, as filas, o stresse… incluindo dos passageiros do Eurostar (que, diga-se de passagem, foi uma das melhores ideias nos últimos tempos, e falo como assídua utente, a uma média de duas vezes por mês há um ano atrás).

Nos aeroportos não se esperam melhores cenários, com implicações até ao nível da viabilidade de algumas transportadoras aéreas. O rol de exemplos é tão extenso que chega a ser assustador. O que fazer com o transporte de mercadorias frescas (onde o tempo é precioso), com as pescas, com os viajantes britânicos a terem de lidar com taxas de roaming de valores astronómicos, com a falta de cooperação na saúde, com os académicos estrangeiros a viver no RU, com os médicos e enfermeiros que necessitam, e por aí fora…?

O futuro é incerto, mas das certezas, poucas, que temos, não podemos se não pensar que voltar atrás talvez pudesse ser a melhor conclusão para estas negociações.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.