Quase cinco anos depois, o célebre “relatório secreto” que avaliou a atuação do supervisor no caso BES vai regressar ao debate político, tal como o Jornal Económico avança nesta edição. Mas se é verdade que o tema volta ao Parlamento, no âmbito da comissão de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos, não é tão certo que o dito relatório veja finalmente a luz do dia, apesar de a nova Lei da Transparência Bancária tornar mais difícil que o Banco de Portugal (BdP) volte a recusar a sua entrega aos deputados.

Em todo o caso, será que o pedido do Bloco de Esquerda tem justificação, tendo em conta que o que está em causa na comissão de inquérito à gestão da Caixa não tem relação com o que aconteceu no BES? Dificilmente. Até porque os problemas na Caixa começaram muitos anos antes dos factos examinados na auditoria que avaliou a forma como o BdP, liderado por Carlos Costa, lidou com o BES. Tudo indica, por isso, que se trata de um pretexto para atacar o governador, desviando as atenções daquele que realmente deveria ser o âmbito desta comissão.

Dito isto, é evidente que numa sociedade democrática, onde a transparência deveria ser a regra, não existe justificação para o relatório da BCG ser mantido em sigilo. O Banco de Portugal não é uma entidade etérea, situada algures acima dos comuns mortais e desobrigada de lhes prestar contas. Pelo contrário, é uma instituição pública que deve estar ao serviço dos cidadãos, que têm todo o direito de conhecer a forma como lidou com a crise do BES, para poderem formar a sua própria opinião. Chama-se a isto democracia.