Há mais de uma dúzia de anos, quando experienciei pela primeira vez a assessoria de comunicação em política, um apoiante do candidato perguntou-me se sabia o que mais unia os eleitores: se sentimentos negativos, se sentimentos positivos.

Não querendo mostrar, à partida, a minha falta de entendimento sobre a questão tão maniqueísta, respondi com uma questão: “Estará a perguntar-me se são os interesses individuais versus o interesse coletivo?”. Respondeu-me que sim.

Parei para pensar, mas o meu interlocutor (da ‘máquina’ partidária) mostrou-se impaciente, o que me obrigou a dizer que não tinha uma resposta fechada para dar com receio das generalizações, mas pensei: “O voto é, em fim de linha, uma avaliação de governados sobre governantes, contudo, não deixa de ser uma súmula pessoal do que é mais ou menos interessante para cada eleitor/a.”

Sem paciência para a reflexão, o militante sublinhou, do alto da sua sabedoria de “muitos anos a fazer quilómetros em campanhas eleitorais”, que o que une mais eleitores “são sentimentos negativos: o que mexe com a carteira (dinheirinho), a revolta dos renegados, descontentes e impacientes ou a vingança contra alguém do lado oposto”.

E positivos, não há? “O único positivo é a esperança, mas quase sempre confundida com a rua pavimentada, emprego para os filhos ou promessas de uma vida (pessoal) melhor muito rapidamente”.

Todo este preâmbulo para chegar ao meu maior receio: ver, por razões e/ou emoções negativas, o meu país perder força democrática com a ascensão da extrema-direita e a direita radical, retrógrada, conservadora e antidemocrática. Uma ascensão liderada por reacionários e muitos alpinistas políticos, alimentada pelo descontentamento de uma parte da população a quem lhe é vendida uma ideia de país em estado pós-apocalíptico, enterrado num lamaçal que só a demagogia e propaganda políticas dão vida.

Sim, o sistema democrático tem falhas. Tem. Sim, os partidos democráticos são autocentrados e ensimesmados, são. Mas não, não renegam a importância da pluralidade, das minorias, dos desprotegidos e da equidade. E sim, só este sistema (democrático) permite que até partidos radicais de extrema-direita assumam palco e acesso a eleições livres.

Por isso, este texto é uma mensagem aos descontentes e revoltados com o statu quo: esta vendeta que a extrema-direita vos apresenta é tão hipócrita quanto mentirosa, esta direita radical não vai resolver os problemas da corrupção, esta direita radical não vai melhorar as condições do nosso país, esta direita radical não vai terminar com a angústia de muitas famílias. Não.

Sou uma cidadã muito preocupada. Este é um pedido pela democracia: nestas eleições autárquicas, não deixem entrar nas vossas assembleias municipais, de freguesia ou nos executivos camarários representantes que reneguem a democracia que custou tanto a tanta gente conquistar. Observem, por favor, os maus exemplos em países como a Hungria, o Brasil ou os Estados Unidos da América e impeçam que males semelhantes ganhem legitimidade no nosso país.

Soluções fáceis para problemas complexos é a base da mensagem extremista. Por isso, vamos votar pela democracia e exigir mais e melhor dos partidos e seus representantes em instâncias democráticas.