O objetivo do designado Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), na versão finalmente colocada pelo Governo em discussão pública apenas depois de várias pressões, é claro: servir os interesses do Estado, não o das empresas.

Ao longo da sua centena e meia de páginas, e descritas as 19 medidas elencadas nos diversos investimentos previstos, fica patente que esta versão do PRR agora colocada “a discussão” em muito se afastou das linhas traçadas pelo seu mentor original, António Costa Silva.

Os dois documentos – o apresentado por Costa Silva e este agora – recordam aliás Dr. Jeckyll e Mr. Hide de “O Médico e o Monstro”, saindo o ‘monstro’ Estado largamente a ganhar.

O que o Governo socialista pretende sob a cobertura do PRR e ao abrigo dos fundos europeus é fazer aquilo que já deveria ter feito em termos de investimento público.

Basta, entre outros exemplos que poderiam ser mencionados, conferir que o referido Plano pretende canalizar 1.032 milhões de euros para projetos de melhoria dos sistemas de transportes coletivos, incluindo a expansão das redes de Metro de Lisboa e do Porto, obras essas que já estavam planeadas antes da pandemia e em andamento antes da existência destas verbas europeias.

Ao fazer isto, o Governo não só por um lado encobre a sua própria inação, como praticamente ignora aqueles que deveriam ser os destinatários naturais deste plano, as empresas que geram mais postos de trabalho e mais contribuem para a riqueza do país.

É certo que uma parte (a mais pequena) dos investimentos listados no PRR se destinará a micro e pequenas empresas, mas sem desprimor destas é indispensável que sejam também consideradas – e não ignoradas – as empresas de maior dimensão. Mesmo até pelo impulso que podem dar à transição digital e à descarbonização da nossa economia.

Como é fácil de entender, é a maior capacidade de escala característica das grandes empresas que potencia os seus recursos para investirem em investigação e desenvolvimento e criarem produtos e serviços com elevado valor acrescentado e inovadores, os quais propiciam um aumento da produtividade e, por consequência, das remunerações.

O período de consulta pública é curto, sabemo-lo bem, e por isso mesmo é tão importante que a sociedade civil e o sector empresarial se movimentem já e depressa no sentido de contribuírem para que o PRR não os exclua e não seja mais do mesmo o que depois virá a suceder, em termos de apoio à competitividade.

Para além disso, a participação nesta fase de contributos pelas entidades privadas permitirá aferir se é verdade que o Governo ouve verdadeiramente a voz daqueles que afirma querer apoiar, ou se apenas faz de conta.

 

 

A engenheira bioquímica Paula Alves foi eleita membro da Academia Nacional de Engenharia dos EUA, sendo a primeira mulher portuguesa a entrar nessa prestigiada instituição pela “liderança nas áreas de produção de medicamentos inovadores” e seu contributo para “a criação de pontes entre a academia e a indústria”. É mais um nome a juntar a muitos outros que têm prestigiado Portugal em organizações internacionais e, no caso de Paula Alves, com o simbolismo acrescido de a sua eleição ter sido anunciada no Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência.

 

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