Avaliar o desempenho de um fundo que investe em startups pode ser tarefa complexa, mas aproveito o momento futebolístico para fazer analogia com os fundos de capital de risco.

Os fundos investem com o objetivo de vender com mais-valias. Tal como os clubes compram e formam jogadores com o objetivo de ganhar jogos. Quanto melhor for o desempenho desportivo, mais valorizam os jogadores, que serão vendidos.

Como sucede numa SAD desportiva, o resultado de um fundo mede-se pelo valor de venda do seu portefólio.

Obviamente, não temos de comprar ou vender jogadores para registar valorizações. Estas estão expressas nas contas da SAD, sendo o valor do plantel. Por absurdo, se no final de determinado ano vendêssemos todo o plantel, veríamos o valor realizado e poderíamos comparar com o valor investido, mas ficaríamos sem equipa para jogar na época seguinte. Porém, não estaríamos a cumprir com o nosso propósito: jogar futebol!

Ademais, seria prematuro vender alguns jogadores, dada a expetativa de valorização superior nas épocas seguintes – o conceito de gestão de longo prazo.

Alguns jogadores jogam bem em equipa, acabando por se valorizarem mutuamente, aumentando o valor do plantel (ou do fundo) – o conceito da gestão de portefólio.

Há jogadores que são vendidos abaixo do preço de compra (por lesão, por fraco desempenho, ou por não serem opção do treinador). Do mesmo modo, existem startups investidas que acabam por ser vendidas a preço inferior ao investimento (no limite por zero euros). Faz parte do jogo: como há jogadores cuja venda salva épocas, empresas há que valorizam de tal forma que conseguem cobrir as perdas noutras.

O primeiro a sentir a sua desvalorização é o próprio jogador. O mesmo sucede com os founders (fundadores das startups): lidar com o insucesso, a crítica, o desfazer de um sonho, a pressão de stakeholders, é muito difícil!

Estes “heróis” (normalmente mentes brilhantes e pessoas humildes) dão o melhor de si: anos das suas vidas, em que poderiam ganhar muito mais e em qualquer parte do mundo, tempo junto das suas famílias, etc. O dinheiro que “perdem” passa por muito escrutínio dos que investem, por tranches e em função de milestones (objetivos). Não gastam em luxos e modas. É mesmo em salários, impostos, tecnologia, patentes, consultores, vendedores. Não é desperdício. É valor empregue na economia e na construção da experiência em empreendedorismo.

Temos ainda jogadores que estão anos ao serviço do clube: comprados no mercado e a sair a custo zero. Mau investimento? Marcaram golos, fizeram assistências, foram construtores de balneário. Se fossem empresas, seria entrega de dividendos aos acionistas.

Nem sempre o preço do “passe” é estipulado de forma simples e pago à cabeça. É normal ser função de resultados no clube para onde vai. Nas startups, é normal parte do preço ser pago por quem compra, em função de validações futuras, royalties, etc. Estes valores contabilizam-se no fundo conservadoramente, pois incorporam expetativas – as mais-valias latentes.

A SAD do clube está sempre a prestar contas: aos sócios, aos acionistas, aos adeptos. Os fundos de investimento têm os seus investidores (LP – Limited Partners), a quem prestam contas sobre o dealflow, os investimentos, resultados imediatos e esperados, gestão do portefólio.

Por gerir os fundos, as sociedades gestoras cobram comissões de gestão, para pagar os seus custos de estrutura e operação. São as “receitas de bilheteira”.

A eterna esperança é que ganhe Portugal! A seleção portuguesa de futebol e as empresas que fazem parte do portefólio de investimentos de fundos portugueses. Nuns como noutros, o plantel é escolhido para ganhar. Mas, prognósticos… só no fim do jogo!