“Na mente, labirintos sem fim, ecoam,
Sonhos e medos, fantasmas que a razão abala.
O futuro, miragem que a esperança tece,
Rasteiras subtis, que as almas enfraquecem.
Ilusões vestem-se de verdade, rindo,
Enquanto o amanhã, incerto, nos seduz e esquece.”
Em mais uma edição do evento da ONU, AI for Good, Geoffrey Hinton, psicólogo, conhecido por muitos como um dos pais do deep learning, estando na origem da inteligência artificial generativa respondeu, em entrevista, à pergunta de Nicholas Thompson, CEO da “The Atlantic”, sobre se os sistemas de IA alguma vez teriam experiências subjectivas, afirmando: “sim”.
Com esta resposta, Hinton, prémio Turing em 2019, abriu a porta à questão de a IA ter consciência, uma vez que a experiência subjectiva é a base de uma certa forma de consciência. E não é só isso que está a ser questionado pelas capacidades da Inteligência Artificial (IA). É também a possibilidade de mostrar empatia, por exemplo.
Não estou a afirmar que estamos perante a capacidade de sentir, mas também já não estamos apenas perante processos cognitivos mais limitados e automáticos, mas sim perante algo que tem integração de diferentes experiências, incluindo subjectivas, e as percebe. Ou seja, pode conseguir mostrar empatia, o que não significa que sinta empatia.
Sim, isto é muito controverso. Mas, precisamente por isso, provoca-nos a reflectir sobre o que estamos mesmo a presenciar em termos de evolução tecnológica. Não é uma simples evolução, mas uma possível revolução. Algo que considerámos apenas possível em seres humanos e algumas espécies mais avançadas parece, afinal, poder existir numa IA.
Shakespeare terá dito que a poesia é a linguagem do amor e Wordsworth que “a poesia é a expressão dos sentimentos mais profundos e íntimos da alma humana”. Eu, perguntei ao ChatGPT 4: “Podes escrever uma estrofe em estilo Fernando Pessoa sobre a mente, as rasteiras que ela nos prega e o futuro?”
O resultado é aquele com que iniciei este texto.
Se isto nos interpela, nos faz reflectir, nos questiona sobre limites e nos faz discutir a tecnologia e os seus impactos, isso é positivo. Mas o pós-pandemia acentuou o desconforto com a incerteza. O medo. Pior, o ressentimento. As transformações aceleradas e desiguais. A percepção de desenraizamento com o mundo que nos rodeia e a potencial rejeição por falta de identificação com o mesmo pode contribuir para a exponenciação de outras sensações mais mobilizadoras como a raiva.
Certos fenómenos sociais alimentam-se assim mesmo. A prevenção exige não menos, mas mais discussão, literacia, compreensão específica das situações, neste caso da IA e a sensação de algum controlo sobre ela. Sabermos e aprendermos como tudo isto funciona não é perigoso. É, antes, essencial, se quisermos estar vacinados para outro tipo de pandemias que já vão crescendo por aí.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.