No passado mês de julho dois irmãos italianos foram apanhados em Turim a assaltarem máquinas ATM disfarçados de Donald Trump. Já cinco anos atrás o FBI perseguiu um assaltante de bancos que se disfarçou de Lincoln – na altura fugiu com menos de 100 dólares, o que porventura explica porque os italianos preferiram Trump. Por que razão esta gente que rouba bancos se disfarça de políticos está por esclarecer. Ou talvez não – repare-se que até no filme “Point Break” o gangue que assaltava bancos agia disfarçado de ex-presidentes americanos.

Aparentemente, a classe política ficou chocada perante esta prática, sentindo-se injustiçada pelos ladrões. Pelos vistos não se lembram da antiga piada do bandido que saiu da escuridão de arma apontada ao cidadão enquanto dizia: “dê-me o seu dinheiro!” ao que o cidadão respondeu “não pode assaltar-me, eu sou membro do parlamento”; o ladrão corrigiu: “está bem, então dê-me o meu dinheiro.” Já dizia o congressista (republicano) Dick Armey que a criança, o ladrão e o político têm de semelhante que vivem à custa dos outros, e que qualquer dos três deve ser vigiado de perto. Para os franceses, o bom comportamento social é não mentir, não aldrabar e não roubar, exceto se se tiver um mandato eleitoral.

Deixando de lado as graçolas, há de facto situações que, convenhamos, são deveras invulgares. Em Guimarães o Tribunal da Relação indeferiu o pedido de um segurança de ser apagado o registo da pena a que foi condenado por ter agredido um cliente, para que não perdesse o emprego. Assim é para muitos outros empregos, como no próprio Estado, onde pode ser exigência para o recrutamento do trabalhador que este tenha registo criminal limpo. Até para técnico geriátrico foi pedido por uma empresa de Sintra o tal registo criminal limpo. Mas para político não é, e inclusive pode ser-se eleito para muitos cargos tendo-se sido condenado – e estado preso – antes. Os próprios políticos comparam-se ou gostam de ser comparados a Robin Hood, como notam Coote e Johnson no seu “Robin Hood in Outlaw/ed Spaces”. Como se pode depois ficar surpreendido se houver alguma, digamos, confusão?

Com efeito, até para os bandidos a situação é confusa. A polícia de Lagos, na Nigéria, capturou um bando de assaltantes de bancos infiltrando dois agentes, um disfarçado de político, outro de seu personal assistant. O disfarce ajudou. Em Nova Deli um “superladrão” que só assaltava políticos e burocratas foi finalmente apanhado no dia 15 de agosto. É de supor que o homem admitia que nesse dia seria solto, na base do provérbio “ladrão que rouba a ladrão…”

No fim do exercício, para os académicos e outros estudiosos da matéria uma dúvida subsiste: é ser bandido um passo importante na formação de um político, uma espécie de formação profissional altamente especializada; ou é ser bandido o estádio último da carreira de um político. Entre os dois venha o diabo e escolha.