Um realizador, cinco filmes: João Canijo no Cinema Ideal

No programa que o Cinema Ideal, em Lisboa, apresenta até dia 20 de junho figuram “Noite Escura”, na Versão Integral do realizador, com mais doze minutos do que a versão difundida na altura da sua estreia, há cerca de 20 anos. A longa-metragem “Sangue do Meu Sangue” e o documentário que retrata a sua preparação, “Trabalho de Actriz, Trabalho de Actor”. E ainda “É o Amor” e “Fátima”. “Sangue do Meu Sangue” e “Fátima” serão exibidos nas suas versões longas, com 190 e 202 minutos, versões que são as que o realizador considera as melhores e mais autênticas.

Este pequeno ciclo revisita a obra do cineasta do díptico “Mal Viver | Viver mal”, a sua última criação, que arrebatou o Urso de Prata, Prémio do Júri, da Berlinale 2023, que teve na Competição Oficial do Festival de Berlim a sua estreia mundial. Dois filmes, um elenco duplo, maioritariamente feminino, em que se destaca o extraordinário trabalho dos atores, sem que uma interpretação se superiorize às restantes. As revelações também estão cá, sobretudo ao nível do trabalho das atrizes mais jovens, mas regista-se acima de tudo um extraordinário trabalho de equipa.

Refira-se, a propósito, a observação do júri que atribuiu a João Canijo o prémio de melhor realizador no Festival de Cinema do Uruguai. “A composição obsessiva dos planos e o desenvolvimento de um conceito sonoro não menos minucioso, são as marcas de um realizador que tem uma ideia de cinema e uma forma de a concretizar plano a plano”, na sua apreciação do filme “Mal Viver”.

Também em exibição no Cinema Ideal, as duas longas-metragens são descritas pela produtora Midas Filmes como “um dos mais ambiciosos empreendimentos artísticos dos anos mais recentes” no percurso de João Canijo, que esteve presente nos festivais de cinema de Cannes com o filme “Noite Escura” (2004), Veneza com “Mal Nascida” (2007) e San Sebastian, onde venceu dois prémios com “Sangue do meu Sangue” (2011).

Um percurso marcado pela paixão pela 7ª arte

João Canijo nasceu em 1957 e frequentou o curso de História da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. No início dos anos 80, descobriu a sua paixão pelo cinema e trabalhou como assistente de realização em filmes como “Der Stand der Dinge” (O Estado das Coisas, 1982), de Wim Wenders; “Fim de Estação” (1982), de Jaime Silva; e “O Desejado” (1987), de Paulo Rocha, entre outros.

Em 1983, estreou-se como realizador com a curta-metragem “A Meio-Amor”. Cinco anos depois, realizou a sua primeira longa-metragem intitulada “Três Menos Eu”, cujo argumento foi também da sua responsabilidade, com as atrizes Rita Blanco e Isabel de Castro. Trabalhou também em televisão, como realizador da série “Alentejo Sem Lei”, para a RTP.

Desde então, a sua filmografia tem mantido um cunho muito pessoal. “Filha da Mãe” (1991), teve um argumento escrito a quatro mãos, com Olivier Assayas; “Sapatos Pretos” (1998), um thriller e uma coprodução com a França com Ana Bustorff e Vítor Norte nos principais papéis; “Ganhar a Vida” (2001), um drama trágico protagonizado por Rita Blanco; “Noite Escura” (2004), com a participação de Beatriz Batarda, Cleia Almeida, Fernando Luís e Rita Blanco. Ainda nas longas-metragens, “Mal Nascida” (2007), “Fantasia Lusitana” (2010), “Sangue do Meu Sangue” (2011), “É o Amor” (2013) e “Fátima” (2017). Este último focado num 13 de maio, num grupo de onze mulheres que parte de Vinhais, Trás-os-Montes, em peregrinação a Fátima. Ao longo de nove dias e 430 km, atravessam meio país em esforço e sacrifício para cumprir as suas promessas, onde o cansaço e o sofrimento extremos as levam a momentos de rutura, revelando o seu verdadeiro caráter e motivações mais profundas.

Para ver ou rever, entre os dias 15 e 20 de junho:

5ª, 15 – 15:30      TRABALHO DE ACTRIZ, TRABALHO DE ACTOR, 84’

6ª, 16 – 14:00      SANGUE DO MEU SANGUE, 190’

Sáb., 17 – 15:00    NOITE ESCURA Versão Integral, 112’

2ª, 19 – 14:45       É O AMOR, 135’

3ª, 20 – 13:45       FÁTIMA, 202’