Há eventos de grande impacto que embora ocorridos e largamente divulgados num passado mesmo recente justificam posteriormente uma abordagem numa lógica mais prospectiva. É o caso das Jornadas Mundiais da Juventude, uma grande organização que mobilizou multidões à volta dum líder religioso carismático – o Papa Francisco – e constituiu, inequivocamente, numa conjuntura algo atribulada, um sucesso para a Igreja Católica portuguesa.

Regressamos a este evento para referir que o impacto destas Jornadas retirou da agenda mediática diversas questões conjunturais da política interna, assim propiciando um certo clima de acalmia neste domínio. Mas viremo-nos agora para o pós-Jornadas. Francamente, não sei avaliar o impacto que estas tiveram fora do nosso espaço territorial, mas as suas consequências e retorno internos não podem deixar de ser encarados.

Não me quero aqui referir ao habitual retorno económico que diversas instituições inevitavelmente farão publicar, facto este que deve ser feito atempadamente e de uma forma rigorosa. Mas hoje preocupo-me, num tom necessariamente leve e de leigo, com outras facetas, também de retorno, mas mais no próprio seio da Igreja Católica.

E assim, desculpando-me desde já dum certo tom economicista, considero adequado que a Igreja Católica Portuguesa crie e dinamize uma espécie de “indicadores de alerta”, num adequado período de observação temporal, com base em amostragens paroquiais rigorosas, no sentido de obter determinado tipo de respostas pós-Jornadas a perguntas como as que se seguem.

Qual o aumento de presença nas missas dominicais; qual o aumento da participação no ato litúrgico da sagrada comunhão; qual o aumento de baptizados e casamentos católicos; qual o aumento da participação de crianças na chamada catequese; qual o aumento do número das chamadas primeiras comunhões solenes; qual o aumento na frequência da disciplina de Religião e Moral no ensino básico; qual o aumento das vocações sacerdotais, ou seja, entrada nos Seminários…? Entre muitas outras.

Há que relevar, contudo, que eventuais respostas menos entusiasmantes às questões acima formuladas nunca farão dissipar o importante papel que a Igreja Católica vem assumindo, desde sempre, em matérias sociais, humanitárias e educativas.

Acresce como relevante que, segundo informações veiculadas na comunicação social, assumiu significado a realização, há tempos, na cidade de Assis, duma reunião dinamizada pelo Papa Francisco que juntou cerca de mil jovens para pensar num modelo alternativo de economia. Esta reunião terá dado origem a movimentos de reflexão que defendem o fim – com um acento tónico de clara rutura – “duma economia assente na acumulação e na troca por uma ideia que enaltece conceitos como a ecologia integral e como a economia integral”.

Ou seja, e conforme referiu o Papa Francisco num evento na Universidade Católica em Lisboa, “os estudos económicos devem ser abordados numa perspetiva que pretenda devolver à economia a sua própria dignidade, para que não caia como presa do mercado selvagem e da especulação”. Como atrás se disse, estas considerações foram proferidas pelo Papa Francisco perante estudantes da Universidade Católica Portuguesa, instituição esta que recentemente criou a cátedra de Francisco (e de Clara, numa alusão ao contributo feminino).

Assim, se a arquitetura teórica dum novo modelo económico for sendo consolidada, tal implica necessariamente que se “troquem por miúdos” estes conceitos vagos e abstractos, de pendor sensibilizador ou até mesmo de alguma utopia, a fazer lembrar certos partidos políticos mais fora da corrente maioritária.

Quais serão, pois, as características duma nova organização económica sobre a qual agora se reflecte sob o manto de Sua Santidade? Quais os passos a implementar em todo um processo de transição, bem como a antecipação de inevitáveis resistências dos interesses instalados? Um processo que, naturalmente, mexe com a política e suas opções.

Aguardamos com uma expectativa de sucesso os resultados da nova cátedra da Universidade Católica, bem como doutros movimentos dinamizados pelo Papa Francisco nesta matéria. É preciso perceber bem o que se visa e é preciso concretizar com plausibilidade. Caso contrário, não passarão de meras palavras com certeza bem-intencionadas!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.