A análise das diferentes atitudes perante a mudança, muito bem caracterizada por Spencer Johnson há 20 anos com a famosa parábola dos ratinhos à procura do seu pedaço de queijo, fica hoje incompleta sem acrescentar na equação o impacto da automatização e da robotização dos processos.

Esta alegoria veio há dias à minha cabeça como reação a um estudo recentemente publicado que refere que quase dois terços das pessoas confiam mais num robô que num gestor. O estudo, promovido por entidades credíveis como a Oracle, baseia-se na resposta de 8.000 pessoas de dez países diferentes.

A análise pormenorizada dos resultados indica que os países asiáticos, como a China, a Índia e o Japão estão todos acima de 75% na sua preferência pelos robôs, enquanto os europeus, em média, não ultrapassam o 50%. Nessa base, a segmentação geográfica dos resultados poderá não depender tanto da qualidade da gestão como de algum enviesamento cultural subjacente, dado que, por exemplo, nos filmes coreanos e japoneses os robôs nunca são maus. Pelo contrário, no mundo ocidental, os robôs são quase sempre como o Terminator.

Não sei se considerar que os robôs são melhores gestores que as pessoas é um ponto a favor das máquinas ou a desfavor das pessoas. Em qualquer caso, é para mim uma novidade e representa um passo qualitativamente muito significativo na evolução do protagonismo laboral das máquinas.

Historicamente, a substituição de pessoas por robôs limitava-se a atividades enquadradas nas áreas referidas em inglês como “os quatro “Ds”: Dull, Dirty, Dangerous and Demeaning. Ou seja, atividades monótonas, sujas, perigosas ou degradantes, muito alinhadas com a etimologia da palavra “robô”, que provem da palavra checa “robotaa” e que significa “escravo”. Neste âmbito de utilização, a produtividade era a principal métrica de sucesso.

Posteriormente, as máquinas começaram a substituir profissionais mais qualificados, como contabilistas, radiologistas ou juristas. Aqui os sistemas já acrescentam componentes algorítmicas mais complexas com capacidade de aprendizagem autónoma no âmbito das técnicas genericamente referidas como inteligência artificial.

Os robô-assessores, particularmente abundantes no âmbito financeiro, representam uma ligeira evolução das atividades anteriores dado que devem saber adaptar as suas recomendações ao perfil dos investidores, com métricas mais qualitativas como a apetência pelo risco dos clientes.

A aparição, embora ainda teórica e pouco visível, dos robô-gestores representa uma evolução significativa porque passamos de substituir tarefas e atividades a ocupar funções, com a ajuda da inteligência artificial. Essa evolução exige adaptações significativas não só de cada um de nós mas também dos códigos laborais e sociais, nomeadamente no que respeita aos valores programados nestas máquinas. A robô-ética, que estuda as implicações sociais da robótica, adquire neste cenário um protagonismo crescente, embora essa inteligência artificial seja ainda mais artificial que inteligente.