A pandemia redefiniu as nossas vidas. Alterou comportamentos, mudou rotinas, tornou incerto o que tínhamos como seguro; mas também nos fez apreciar muito daquilo que, tido como adquirido e definitivo, havíamos banalizado e esquecido o seu valor.

Quando por força da pandemia os estabelecimentos de ensino foram encerrados, pelo menos durante algum tempo, o foco das atenções voltou-se para a Educação. A Escola foi vista como promotora de desenvolvimento, apreciada no seu papel social, indispensável ao indivíduo e à sociedade, niveladora de desigualdades. Não sendo possível o ensino presencial, recorreu-se ao ensino à distância como solução de emergência. Do mal o menos. Para que essa transição ocorresse de forma ponderada e reflexiva, exigia-se tempo que, em Março do ano passado, a urgência não permitia.

Discutidas e avaliadas as implicações das duas modalidades, tornou-se consensual que as aulas presenciais traziam vantagens, pelo menos para os alunos mais novos, ou seja, do Ensino Básico e do Secundário. Partilhando dessa ideia, eu própria apresentei as razões que, na minha opinião, a fundamentam.

Creio que o ensino à distância não deve ser visto como a transposição das práticas do ensino presencial para um ambiente online. Quer um, quer outro, usando materiais diferentes, com características distintas de tempo e de espaço, carecem ser planeados de forma também diferente. Num processo pedagógico reflectido, há que repensar, por exemplo, a distribuição e a duração dos tempos lectivos e as actividades a desenvolver no ensino à distância; e há, igualmente, que assegurar as ferramentas que lhe dão suporte, bem como as competências digitais dos professores e dos alunos.

Entre promessas, desculpas e imprecisões, boa vontade e improviso, o ano lectivo cumpriu-se. E, ainda em Junho, António Costa anunciava um investimento de milhões para melhorar a escola digital e assegurar que o ensino à distância fosse acessível no futuro (não fosse o diabo tecê-las) a todas as famílias e regiões.

Em Setembro, o regresso às aulas ocorreu na estranha normalidade a que a repetição nos vai acostumando: máscara, gel e distanciamento social. Esta última medida impôs o reajustamento do discurso didáctico; foram preteridas as metodologias e estratégias de sala de aula que implicavam proximidade entre alunos e entre estes e o professor: a aprendizagem colaborativa, atitudes de cooperação ou entreajuda entre alunos ou o acompanhamento mais individualizado por parte do professor tornaram-se inconvenientes, em virtude da pandemia.

As actividades laboratoriais viram-se empurradas para o que alguns professores, muito antes da Covid, procuravam evitar: o visionamento de uma projecção, tendo os alunos como espectadores e não como actores.

Quando, em Janeiro, o descontrolo da pandemia tornou novamente imperioso suspender as aulas presenciais, Tiago Brandão Rodrigues veio afirmar “que as escolas estavam agora melhor preparadas” ‒ Oh, Sr. Ministro (e da Educação!), quando muito, estarão mais bem preparadas. E, estou em crer, sobretudo devido ao trabalho e à iniciativa das Direcções e do corpo docente das escolas.

Apesar do reconhecimento expresso na Resolução do Conselho de Ministros, de 20 de Julho, de que o regime presencial de aprendizagem constituía a regra para o ano lectivo corrente, a 8 de Fevereiro, devido ao descontrolo da situação epidemiológica, o ensino voltou a ser à distância. Dos prometidos computadores, muitos ainda não saíram do papel, e a tarifa social da internet será implementada o mais brevemente possível, ou seja, não se sabe quando.

Mas espero que se concretizem as excepções ao ensino online previstas naquele diploma e que as escolas se mantenham abertas para acolher, entre outros, os alunos que beneficiam da acção social escolar, aqueles que têm necessidades educativas especiais e também as crianças para as quais a escola considere ineficaz a aplicação dos regimes misto e não presencial, isto é, os que não têm condições para continuar o ensino em casa. E são muitos!

O estudo liderado pela Professora Susana Peralta, Crianças em Portugal e ensino a distância: um retrato, mostra-nos as desigualdades existentes no acesso à educação, seja em que modalidade for, mas que o ensino à distância irá acentuar.

Para o funcionamento das escolas, é óbvio que os professores são imprescindíveis. Quando os grupos prioritários para a vacinação são definidos e redefinidos várias vezes, não seria de pensar em dar alguma prioridade aos docentes, uma classe envelhecida? Ou será que por estarem habituados a trabalhar em condições adversas, a confrontarem-se amiúde com situações problemáticas, se partiu do princípio que já estão acostumados e criaram imunidade ao mau comportamento daquele vírus intratável e rebelde?

Eu diria ‒ como diz muita gente que nunca diz, mas diria ‒ “Vamos lá ver”!

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.