Sanity is a full time job, in a world that is always changing…” estas são as palavras de Greg Greffin, vocalista da banda Bad Religion, docente na UCLA onde leciona biologia evolucionária e uma das minhas referências enquanto adolescente. Lembro-me de ouvir esta música (“Sanity”, do álbum “No Control”, de 1989), algures no início dos anos 90, um tempo em que a psicologia, para mim, e a atenção dada à importância da saúde mental, pela sociedade, não eram ainda as maiores prioridades.

Em setembro do ano passado Mike Patton vocalista dos Faith no More e Mr Bungle, anunciava que iria cancelar os concertos agendados por questões de saúde mental e no início deste mês de julho foi Be Svendsen, o DJ, músico e produtor de música eletrónica que cancelou toda a sua atividade, escrevendo na sua conta “os problemas ligados a saúde mental, como o stress, burnout, ansiedade e depressão são tristemente associados a carreiras criativas. Infelizmente aconteceu-me a mim”.

Estes são apenas alguns casos, mais mediáticos, do impacto que a saúde mental tem nos indivíduos, impactos que condicionam a forma como aferimos graus de satisfação e equilíbrio das vidas que vivemos, mas também o efeito cascata que acaba por afetar os domínios profissionais. Reconhecer que não temos as condições mínimas para fazer o que se espera de nós não é um sintoma de fraqueza. É um sinal de lucidez, onde através de um processo, mais ou menos consciente, se faz um balanço do nosso estado psicológico, aferindo as competências que temos com os desafios que se nos apresentam e como resultado desse balanço se chega a uma conclusão.

Se a conclusão é, que atingimos, ou estamos perto de atingir o nosso limite, então o ónus não deve ficar no individuo (que já fez a sua parte), mas sim do lado das instituições que, num cenário ideal, conseguiriam criar condições para apoiar processos de mitigação dos efeitos que os problemas ligados à saúde mental apresentam.

Sabemos que um em cada cinco portugueses sofre de problemas de saúde psicológica, sendo o peso das doenças mentais de 22,5% no total das patologias e o custo estimado anual de 3,2 mil milhões de euros, sentido em áreas como o absentismo, presentismo e na perda de produtividade. A aposta em cuidados de saúde psicológica é uma aposta nas pessoas, em pessoas mais capazes e com recursos disponíveis para fazer frente a períodos mais desafiantes, mas é também uma aposta de crescimento económico que, como vemos cada vez mais, dele (bem-estar) necessita para se cumprir.

É por isso necessário que as palavras que Greg Greffin escreveu no final da década de 80, se possam tornar realidade 40 anos depois, a urgência de que o investimento em saúde mental, num mundo que continua em constante mudança, seja um trabalho realizado, não em part-time, mas a tempo inteiro.

O autor assina este artigo na qualidade de responsável pela relação entre a psicologia e a tecnologia na Ordem dos Psicólogos Portugueses.